Caso Superfolks: Alan Moore detona Grant Morrison
O mago dos quadrinhos Alan Moore concedeu entrevista a Pádraig Ó Méalóid, um cara de nome estranho que eu nunca tinha ouvido falar, mas pelo que pude pesquisar é um crítico de quadrinhos e literatura fantástica irlandês que tem acesso aos grandes escritores e artistas da indústria e que já entrevistou o barbudão outras vezes.
Entre muitas coisas de pouco interesse na entrevista, Alan Moore anunciou uma parada na publicação de Dodgen Logic por questões financeiras, falou um pouco sobre seu projeto cinematográfico, sobre o livro de magia que esta escrevendo com Steve Moore e sobre A Balada de Halo Jones, seu romance inacabável Jerusalem, suas performances, a emoção de tornar-se avô e algumas outras coisas. Mas tudo isso a gente fala por aqui em outro dia, por que o que achei de mais interessante nessa entrevista foi o caso Superfolks.
(Você também pode ler a entrevista completa em inglês no site da revista 3AM).
Logo no começo Méalóid questiona Moore sobre a suposta influência de Superfolks em seus roteiros de super-herói, essa questão havia sido levantada por Grant Morrison em artigos nos anos 90. Bem, eu não conhecia essa teoria, não sabia que diabo era Superfolks, mas antes que você vá googlar, eu explico.
Superfolks, ou, em tradução livre, "Supergente", é um romance satírico de 1977 escrito pelo jornalista Robert Mayer, ele teria sido a grande influência para os escritores de HQ que renovaram o gênero de super-herói dos anos 1980 em diante, incluindo Alan Moore e Kurt Busiek.
O livro não fez grande sucesso e esteve fora de circulação até 2003, quando foi republicado com capa de Dave Gibbons e introdução de Busiek, e denovo em 2005, com capa de Mike Allred e introdução de Grant Morrison.
Superfolks conta a história de David Brinkley, um super-herói que não tem um codinome definido, ele é conhecido como "Indigo", "Ubermensch", ou simplesmente "Overman" ou "Everyman", ele usa um emblema no peito e é o último sobrevivente do planeta Cronk, é vulnerável a substância Cronkite, foi adotado por humanos e cresceu em Littletown, onde se interessava por uma garota que se chamava Lorna Doone e mais tarde se casou com Peggy Pole. Ele tem inimigos que se chamam Logar, o cientista louco, Univac e Pxyzsyzygy.
Ele esta perdendo seus poderes pela influência de um inimigo desconhecido, então se aposenta e vai viver em um subúrbio com sua mulher e dois filhos, enquanto todos os outros super-heróis, incluindo ai os heróis que conhecemos, Superman, Batman e Robin, Mulher Maravilha, a Família Marvel e Snoopy (sim, ele mesmo) são mortos ou se aposentam em circunstâncias misteriosas e ridículas. A Mulher maravilha por, exemplo, torna-se militante feminista, Batman e Robin morrem em um acidente quando arrebentam o Batmóvel em um ônibus escolar que levava crianças negras.
Isto faz pensar em um plano para matar todos os superseres, o que mais tarde se revela verdadeiro: o vilão Pxyzsyzygy, o "elfo da quinta dimensão", armou para acabar com todos os heróis. A história começa mesmo quando o aposentado David Brinkley tem uma crise de meia idade e vê seus poderes retornarem de repente, ao mesmo tempo que revoltas populares e criminosos assolam Manhattan. Ele descobre que seus poderes haviam sumido por que seus inimigos introduziram Conkrite na água e nos produtos que ele consumia.
Quando a CIA decidiu fazer um acordo com os Soviéticos para o desarmamento nuclear mútuo, decidiu que seria o momento de parar de sabotar o herói e trazê-lo de volta a ativa, simplesmente para assassina-lo.
Com a ajuda de outros heróis, o Capitão Mantra e um Peter Pan envelhecido e gay (sic), Brinkley reaprende a usar seus poderes e enfrenta seus inimigos: o gigolô Stretch O'toole - o Homem Elástico, Demoníaco, o filho incestuoso de Capitão Marvel e Black Adam, além do próprio Pxyzsyzygy.
Mesmo com essa trama esdrúxula, que em muito lembra Watchmen, é óbvio que o livro nada mais é do que uma sátira da mitologia de Superman e da família Marvel, além de ser a primeira publicação que explora a sexualidade bizarra dos super-heróis, mostrando Brinkley como um tarado que usa seus poderes de raio-x para ver as mulheres nuas e seu interesse romântico de colegial, Lorna Doole, se transformando em uma stripper bisexual groupie de super-heróis.
O livro parece ser claramente uma influência para os quadrinhos de Alan Moore e quem apontou isso pela primeira vez foi Grant Morrison.
Em julho de 1990, o careca escocês era um jovem pretendende a grande escritor, ele publicou um artigo na revista Speakeasy alegando que Alan Moore tirou suas ideias do romance Superfolks. Ele apontou essa influência nas séries Watchmen, Miracleman e na história "What ever Happened to the Man of Steel" (no Brasil, "O que aconteceu ao Super-Homem").
Segundo Grant Morrison, a citação do filósofo Nietzsche que Moore usou na primeira edição de Miracleman também pode ser encontrada na primeira edição de Superfolks. Os personagens de Miracleman corresponderiam perfeitamente a sátira da família Marvel feita em Superfolks, onde eles são vilões. A intricada conspiração presente em Watchmen corresponderia á conspiração para matar os heróis em Superfolks. Em "O Que aconteceu ao Super-Homem" o vilão Mxyzptlk exerce o mesmo papel de Pxyzsyzygy no livro.
Não tive acesso ao artigo de Morrison, mas achei algumas repercussões na rede de anos atrás, ao que parece os caras não se batem muito bem por causa das declarações do careca, mas nesta nova entrevista, Alan Moore comentou o caso e fez umas declarações venenosas, leia ai:
Pádraig Ó Méalóid: A primeira coisa que eu gostaria de perguntar é sobre Superfolks. Sabe, existem esses boatos, tipo que Jerry Siegel leu Gladiator e tirou o Superman de lá, e tem esse ai, Grant Morrison no início de carreira insinuando que você leu Superfolks e baseou toda a sua produção no livro.
Alan Moore: Bem, eu li Superfolks. Eu sei que Grant Morrison, eu creio, lá atrás quando ele estava tentando fazer seu nome escrevendo coisas nojentas sobre mim, eu sei que ele insinuou isso, mas de maneira alguma foi a única influência, nem mesmo a maior influência na minha produção. Havia algo específico? Eram apenas acusações genéricas, ou havia coisas específicas?
Pádraig Ó Méalóid - Ele escreveu um artigo na revista Speakeasy nos anos 90, acho que ele tinha acabado de ler o livro e ai ele disse "é isso ai, é aquilo alí" e ele juntou as partes que serviam á sua ideia, seria isso? Quer dizer, quando você leu Superfolks, que tipo de influência o livro exerceu sobre você? Conta ai.
Alan Moore: Nem mesmo me lembro de quando li, foi provalmente antes de escrever Miracleman. Deve ter tido o mesmo tipo de influência sobre mim que teve o bem mais antigo (provavelmente antigo demais para Grant Morrison) poema de Brian Patten chamado "Where Are You Now, Batman?" (Onde está você agora, Batman?) que saiu na coletânea 1960's Penguin Mersey Poets (na verdade The Mersey Sound) e que falava com um tom meio elegíaco sobre heróis aposentados em situações difíceis, rememorando os dias melhores do passado, isso me influenciou. Eu diria que o Superduperman de Harvey Kurtzman foi provavelmente a primeira influência, mas eu me lembro de encontrar outras coisas na mesma linha de Superfolks. Eu lembro de ter lido The Kriptonite Kid de Joseph Torchia naquela época, achei bem movimentado, não lembro mesmo se lí...lí sim, provavelmente, mas como eu disse, eu acho que Grant Morrison, com suas próprias palavras, declarou em uma entrevista que, lá no início da carreira dele, essa foi a maneira que ele encontrou para se tornar famoso, atacando um escritor mais famoso. Alguém que, a propósito, deu a ele o seu trabalho na Vertigo. Eu não me lembro, pra falar a verdade Pádraig.
Pádraig Ó Méalóid: Tudo bem, isso é apenas uma dessas coisas que surgem por ai e eu queria perguntar a você por que eu não vi qualquer pessoa fazer essa pergunta na verdade.
Alan Moore: Como eu disse, o livro foi provavelmente uma das numerosas influências que podem ter ajudado a definir o tom poético de Miracleman [...] eu não lembro de qualquer conceito, qualquer coisa específica que possa ter me influenciado, além daquele tipo de sentimento poético pós-moderno.
Ok, galera, taí Alan Moore detonando Grant Morrison. Mas falando sério, não deu pra cair nesse papo de uma poesia aqui e outra alí. Eu não lí o livro Superfolks, mas me pareceu muito, muito próximo do conceito que o barbudão viria a explorar em suas histórias, não só ele, mas todos os caras que fizeram essa "revolução" com os super-heróis e inauguraram a Era Moderna dos quadrinhos.
Aliás, Kurt Busiek declarou que Astro City não existiria se ele não tivesse lido esse livro, mas Alan Moore não parece ser um cara humilde, ele sempre esbravejou pros quatro ventos que ele tentou levar o gênero super-herói para outros níveis criativos, mas a influência do livro na obra dele parece óbvia.
Então quando eu soube disso agora, eu que sempre busco saber as origens das ideias que me encantam, meio que me senti enganado, então, tudo partiu de um livro? Eu pensando que os caras lá quebraram o pau com os editores pra renovar a onda dos super-heróis e torna-los mais adultos ou realistas ou seja lá o que for, quando na verdade eles chupinharam as ideias de um livro que se destinava basicamente a sacanear com os super-heróis? Você ai sabia dessa?
Agora que consegui ligar alguns pontos eu fico pensando, qual o próximo passo nessa evolução e até que ponto as histórias em quadrinhos podem chegar? De onde os roteiristas atuais tiram suas ideias? Será que Grant Morrison vai explorar mais a questão em seu livro sobre a história dos super-heróis? Quem está certo nesse caso? Será que Grant Morrison foi mesmo leviano acusando Alan Moore de plágio? Ou você acha que os escritores não devem revelar suas fontes?
Leia Também: O final de Watchmen, de onde Alan Moore tirou a ideia?
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Entre muitas coisas de pouco interesse na entrevista, Alan Moore anunciou uma parada na publicação de Dodgen Logic por questões financeiras, falou um pouco sobre seu projeto cinematográfico, sobre o livro de magia que esta escrevendo com Steve Moore e sobre A Balada de Halo Jones, seu romance inacabável Jerusalem, suas performances, a emoção de tornar-se avô e algumas outras coisas. Mas tudo isso a gente fala por aqui em outro dia, por que o que achei de mais interessante nessa entrevista foi o caso Superfolks.
(Você também pode ler a entrevista completa em inglês no site da revista 3AM).
Logo no começo Méalóid questiona Moore sobre a suposta influência de Superfolks em seus roteiros de super-herói, essa questão havia sido levantada por Grant Morrison em artigos nos anos 90. Bem, eu não conhecia essa teoria, não sabia que diabo era Superfolks, mas antes que você vá googlar, eu explico.
Superfolks, ou, em tradução livre, "Supergente", é um romance satírico de 1977 escrito pelo jornalista Robert Mayer, ele teria sido a grande influência para os escritores de HQ que renovaram o gênero de super-herói dos anos 1980 em diante, incluindo Alan Moore e Kurt Busiek.
O livro não fez grande sucesso e esteve fora de circulação até 2003, quando foi republicado com capa de Dave Gibbons e introdução de Busiek, e denovo em 2005, com capa de Mike Allred e introdução de Grant Morrison.
Superfolks conta a história de David Brinkley, um super-herói que não tem um codinome definido, ele é conhecido como "Indigo", "Ubermensch", ou simplesmente "Overman" ou "Everyman", ele usa um emblema no peito e é o último sobrevivente do planeta Cronk, é vulnerável a substância Cronkite, foi adotado por humanos e cresceu em Littletown, onde se interessava por uma garota que se chamava Lorna Doone e mais tarde se casou com Peggy Pole. Ele tem inimigos que se chamam Logar, o cientista louco, Univac e Pxyzsyzygy.
Ele esta perdendo seus poderes pela influência de um inimigo desconhecido, então se aposenta e vai viver em um subúrbio com sua mulher e dois filhos, enquanto todos os outros super-heróis, incluindo ai os heróis que conhecemos, Superman, Batman e Robin, Mulher Maravilha, a Família Marvel e Snoopy (sim, ele mesmo) são mortos ou se aposentam em circunstâncias misteriosas e ridículas. A Mulher maravilha por, exemplo, torna-se militante feminista, Batman e Robin morrem em um acidente quando arrebentam o Batmóvel em um ônibus escolar que levava crianças negras.
Isto faz pensar em um plano para matar todos os superseres, o que mais tarde se revela verdadeiro: o vilão Pxyzsyzygy, o "elfo da quinta dimensão", armou para acabar com todos os heróis. A história começa mesmo quando o aposentado David Brinkley tem uma crise de meia idade e vê seus poderes retornarem de repente, ao mesmo tempo que revoltas populares e criminosos assolam Manhattan. Ele descobre que seus poderes haviam sumido por que seus inimigos introduziram Conkrite na água e nos produtos que ele consumia.
Quando a CIA decidiu fazer um acordo com os Soviéticos para o desarmamento nuclear mútuo, decidiu que seria o momento de parar de sabotar o herói e trazê-lo de volta a ativa, simplesmente para assassina-lo.
Com a ajuda de outros heróis, o Capitão Mantra e um Peter Pan envelhecido e gay (sic), Brinkley reaprende a usar seus poderes e enfrenta seus inimigos: o gigolô Stretch O'toole - o Homem Elástico, Demoníaco, o filho incestuoso de Capitão Marvel e Black Adam, além do próprio Pxyzsyzygy.
Mesmo com essa trama esdrúxula, que em muito lembra Watchmen, é óbvio que o livro nada mais é do que uma sátira da mitologia de Superman e da família Marvel, além de ser a primeira publicação que explora a sexualidade bizarra dos super-heróis, mostrando Brinkley como um tarado que usa seus poderes de raio-x para ver as mulheres nuas e seu interesse romântico de colegial, Lorna Doole, se transformando em uma stripper bisexual groupie de super-heróis.
O livro parece ser claramente uma influência para os quadrinhos de Alan Moore e quem apontou isso pela primeira vez foi Grant Morrison.
Em julho de 1990, o careca escocês era um jovem pretendende a grande escritor, ele publicou um artigo na revista Speakeasy alegando que Alan Moore tirou suas ideias do romance Superfolks. Ele apontou essa influência nas séries Watchmen, Miracleman e na história "What ever Happened to the Man of Steel" (no Brasil, "O que aconteceu ao Super-Homem").
Segundo Grant Morrison, a citação do filósofo Nietzsche que Moore usou na primeira edição de Miracleman também pode ser encontrada na primeira edição de Superfolks. Os personagens de Miracleman corresponderiam perfeitamente a sátira da família Marvel feita em Superfolks, onde eles são vilões. A intricada conspiração presente em Watchmen corresponderia á conspiração para matar os heróis em Superfolks. Em "O Que aconteceu ao Super-Homem" o vilão Mxyzptlk exerce o mesmo papel de Pxyzsyzygy no livro.
Não tive acesso ao artigo de Morrison, mas achei algumas repercussões na rede de anos atrás, ao que parece os caras não se batem muito bem por causa das declarações do careca, mas nesta nova entrevista, Alan Moore comentou o caso e fez umas declarações venenosas, leia ai:
Pádraig Ó Méalóid: A primeira coisa que eu gostaria de perguntar é sobre Superfolks. Sabe, existem esses boatos, tipo que Jerry Siegel leu Gladiator e tirou o Superman de lá, e tem esse ai, Grant Morrison no início de carreira insinuando que você leu Superfolks e baseou toda a sua produção no livro.
Alan Moore: Bem, eu li Superfolks. Eu sei que Grant Morrison, eu creio, lá atrás quando ele estava tentando fazer seu nome escrevendo coisas nojentas sobre mim, eu sei que ele insinuou isso, mas de maneira alguma foi a única influência, nem mesmo a maior influência na minha produção. Havia algo específico? Eram apenas acusações genéricas, ou havia coisas específicas?
Pádraig Ó Méalóid - Ele escreveu um artigo na revista Speakeasy nos anos 90, acho que ele tinha acabado de ler o livro e ai ele disse "é isso ai, é aquilo alí" e ele juntou as partes que serviam á sua ideia, seria isso? Quer dizer, quando você leu Superfolks, que tipo de influência o livro exerceu sobre você? Conta ai.
Alan Moore: Nem mesmo me lembro de quando li, foi provalmente antes de escrever Miracleman. Deve ter tido o mesmo tipo de influência sobre mim que teve o bem mais antigo (provavelmente antigo demais para Grant Morrison) poema de Brian Patten chamado "Where Are You Now, Batman?" (Onde está você agora, Batman?) que saiu na coletânea 1960's Penguin Mersey Poets (na verdade The Mersey Sound) e que falava com um tom meio elegíaco sobre heróis aposentados em situações difíceis, rememorando os dias melhores do passado, isso me influenciou. Eu diria que o Superduperman de Harvey Kurtzman foi provavelmente a primeira influência, mas eu me lembro de encontrar outras coisas na mesma linha de Superfolks. Eu lembro de ter lido The Kriptonite Kid de Joseph Torchia naquela época, achei bem movimentado, não lembro mesmo se lí...lí sim, provavelmente, mas como eu disse, eu acho que Grant Morrison, com suas próprias palavras, declarou em uma entrevista que, lá no início da carreira dele, essa foi a maneira que ele encontrou para se tornar famoso, atacando um escritor mais famoso. Alguém que, a propósito, deu a ele o seu trabalho na Vertigo. Eu não me lembro, pra falar a verdade Pádraig.
Pádraig Ó Méalóid: Tudo bem, isso é apenas uma dessas coisas que surgem por ai e eu queria perguntar a você por que eu não vi qualquer pessoa fazer essa pergunta na verdade.
Alan Moore: Como eu disse, o livro foi provavelmente uma das numerosas influências que podem ter ajudado a definir o tom poético de Miracleman [...] eu não lembro de qualquer conceito, qualquer coisa específica que possa ter me influenciado, além daquele tipo de sentimento poético pós-moderno.
Ok, galera, taí Alan Moore detonando Grant Morrison. Mas falando sério, não deu pra cair nesse papo de uma poesia aqui e outra alí. Eu não lí o livro Superfolks, mas me pareceu muito, muito próximo do conceito que o barbudão viria a explorar em suas histórias, não só ele, mas todos os caras que fizeram essa "revolução" com os super-heróis e inauguraram a Era Moderna dos quadrinhos.
Aliás, Kurt Busiek declarou que Astro City não existiria se ele não tivesse lido esse livro, mas Alan Moore não parece ser um cara humilde, ele sempre esbravejou pros quatro ventos que ele tentou levar o gênero super-herói para outros níveis criativos, mas a influência do livro na obra dele parece óbvia.
Então quando eu soube disso agora, eu que sempre busco saber as origens das ideias que me encantam, meio que me senti enganado, então, tudo partiu de um livro? Eu pensando que os caras lá quebraram o pau com os editores pra renovar a onda dos super-heróis e torna-los mais adultos ou realistas ou seja lá o que for, quando na verdade eles chupinharam as ideias de um livro que se destinava basicamente a sacanear com os super-heróis? Você ai sabia dessa?
Agora que consegui ligar alguns pontos eu fico pensando, qual o próximo passo nessa evolução e até que ponto as histórias em quadrinhos podem chegar? De onde os roteiristas atuais tiram suas ideias? Será que Grant Morrison vai explorar mais a questão em seu livro sobre a história dos super-heróis? Quem está certo nesse caso? Será que Grant Morrison foi mesmo leviano acusando Alan Moore de plágio? Ou você acha que os escritores não devem revelar suas fontes?
Leia Também: O final de Watchmen, de onde Alan Moore tirou a ideia?
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9 Comentários:
Isso me faz lembrar quando perguntaram ao Neil Gaiman o que ele acha de o Harry Potter ser uma cópia descarada do personagem Tim Hunter, que ele criou pra série Livros da Magia. Gaiman disse "Não sou o primeiro e nem serei o último a escrever sobre crianças e Magia" (Na verdade, o Tim Hunter não é uma criação do Gaiman, como ele mesmo declarou, mas isso é outra história...).
Agora, falando sério, nos últimos 200 anos ou mais de ficção, o que podemos realmente chamar de original? Tudo é referência para alguma coisa.
O Alan Moore ou o cara que escreveu "Superfolks" "chuparam" suas ideias das ideias de outros anteriores a eles, da mesma forma que muitos outros autores, entre eles o Grant Morrison inclusive, fizeram em suas carreiras, baseando-as nos trabalhos de gente como o Moore.
A cultura pop se alimenta de si mesma. Se Watchmen foi baseado em Superfolks, e este baseado em outras obras antes dele, isso não importa. O que importa é o quão bem executadas essas obras foram. E Watchmen é um exemplo perfeito de uma obra perfeitamente elaborada.
A ideia pode ter sido efetivamente inspiradora, mas se a execução for muito mal feita, vai ficar igualzinho aquela história antiga de um what-if o capitão américa não fosse o único beneficiado com o soro do supersoldado. Uma boa ideia, desperdiçada numa execução cagadíssima! Não sei se chegou a inspirar alguém (era um troço do início dos anos noventa), embora esse lance de buscarem reproduzir o experimento do supersoldado acabou sendo o mote básico da trama dos Supremos.
Se Superfolks fosse assim tão revolucionário, teria gerado repercussão quando foi lançado, o que não foi o caso.
Leiam mais sobre o artigo de Morrison na Speakeasy em http://www.comicbookresources.com/?page=article&id=22381 .
Bom, o próprio Morrison disse que ele começou a ficar famoso por falar mal do Moore, então por aí já se vê que ele não tem tanta credibilidade. E como o próprio Moore assumiu, ele leu Superfolks, entre outras dezenas de coisas que o influenciaram. É mais do que óbvio que, se Moore tivesse "chupado" Superfolks, o próprio Mayer seria o primeiro a reclamar.
Nada disso apaga a influência que o trabalho de Moore teve na revoluão dos quadrinhos, comparável à revolução que Sielgel/Shuster fizeram com o Superman e que Stan Lee fez com a Marvel. Vamos ter de esperar mais algumas gerações para aparecer outro gênio que exerça tamanha influência?
Morrison pode estar certo de que este romance tenha influenciado os autores da Era Moderna dos quadrinhos, mas acusar de plágio talvez seja exagero. Como não li o livro, não dá para julgar onde acaba a influência e começa o plágio.É praticamete impossível um artista criar algo completamente novo do nada, pois um mínimo de influência de sua formação cultural será refletida na sua obra. Por exemplo, já observaram semelhança entre o final de "Watchmen" e as teorias de um livro escrito nos anos 60 sobre como se alcançar a paz mundial. Este livro chegou a ser publicado no Brasil sob o título "A Paz Indesejável", e infelizmente ainda não o li, já que não é editado há muitos anos e não é muito comum em sebos. Seria mais uma influência ou mera coincidência?Mais detalhes nesse artigo: http://www.emquadrinho.com/2011/02/o-final-de-watchmen-de-onde-alan-moore.html
A título de curiosidade, no livro "Homens do Amanhã", do Gerard Jones, o autor cita um romance obscuro como influente na criação do Super-Homem e do arquétipo heroístico da Era de Ouro: "Gladiator", de Philip Wylie, mas sem acusar Siegel e SHuster de plágio.
Pior que só pela sinopse já da pra ver umas 5 obras do Moore que saíram de lá.
Acho que as pessoas não tem noção de como funciona a composição artística de uma obra. Ela se inicia com plots e conceitos, que vão sendo mais elaborados e etc.
Qualquer um sabe que watchmen surgiu de um conceito da revista mad, que mostrava os heróis já velhos e decadentes, se procurarem por aí, vão achar as imagens dessa fatídica revista. Tanto que ele reutiliza vários desss conceitos em Supremo por exemplo.
Mas como eu tava dizendo, isso ai surgiu como um conceito, ele tenha lido na histórias e foi garibando a idéia pra um outro lado. Superfolks não fez Watchmen e nem de perto deve ser idêntica a Watchmen (que aliás, a identicidade de duas obras é o fator principal para declarar plágio, como se o Moore lesse watchmen que saiu, sei lá, na nova zelandia, 100 unidades e ele fez igual), mas pode ter gerado conceitos...
Então, com isso tudo a gente só vê que o Grant estava tentando pagar uma de Mark Chapman, atacando seu ídolo pra conseguir logo o mesmo status de fama dele...
Coisa mais imbecil que já li... O Superduperman realmente tem mais a ver com Miracleman e Watchmen do que esse livro aí...
Essa história saiu aqui no MAD Especial 2 - Só Quadrinhos, da Editora Record. Nela, um vilão superpoderoso misterioso está cometendo crimes e matando pessoas e o Superduperman acaba descobrindo que o vilão é na verdade o Capitão Marvel, que viu que ganhar dinheiro fácil é melhor que salavar o mundo.
Lembrando que os X-Men de Grant Morrisonsão uma orgia oral de tanta chupação em obras que nem são tão obscuras assim...
Muito interessante esse artigo.
Apenas acrescentando um comentário de algo que eu lembrei ao ler a citação sobre o tal "filho incestuoso do Capitão Marvel": lembro de ter lido sobre uma proposta do Moore para uma grande saga da DC chamada "Twilight of the super heroes" que mostraria um possível futuro dos heróis. Dentre outras desconstruções, em uma delas, o Moore mostrava que o CM tinha tido um caso incestuoso com a irmã, Mary. Seria outra influência ao tal Superfolks?
Certa vez, Einstein disse que "O segredo da criatividade é esconder bem as suas fontes". Em minha opinião, ele estava certo.
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