Quadrinhos são coisa de criança! Nerds velhos, larguem o osso!
Estou cheio de ver marmanjos reclamando, chorando e esperneando nas redes sociais pela má qualidade de suas HQs preferidas de super-herói. Rebentos da terceira idade cheios de cabelos brancos, hérnias e pontes de safena, com netos no colo e próximos da aposentadoria, reclamando das reformulações da DC, da morte e ressurreição do Tocha Humana, da má qualidade do filme do Lanterna Verde. Porra, velhos trintões, quarentões, lendo gibis no metrô, vejo isso com frequencia, as comic shops cheias deles, parecem clubes de aposentados, aqueles bingos de igreja, ninguém é jovem, não se veem adolescentes e crianças percorrendo as prateleiras aos berros, ávidos por aventuras, o que se vê são senhores de idade nostálgicos comprando bonequinhos a preço de ouro e folheando revistas em busca do elixir da juventude. Putaquepariu.
O público de HQs está envelhecido. Antigamente as pessoas paravam de ler gibis no máximo ao fim da adolescência, os poucos que continuavam eram pessoas ligadas a sua produção: jornalistas, artistas, escritores, editores, comerciantes, ou pessoas intelectualmente subdesenvolvidas, pra não dizer, retardadas mesmo. Uma minoria que jamais manteria a indústria funcionando. Porém, na virada dos anos oitenta para os noventa, aconteceu um fenômeno nunca antes visto: a partir do boom dos chamados "quadrinhos adultos" no seio da indústria americana de super-heróis, passou a haver uma desculpa para que as massas continuassem a ler quadrinhos para além dos vinte anos de idade.
Afinal, na medida em que o senso comum passou a aceitar que ler quadrinhos não era um hábito exclusivamente infantil e surgiram muitos autores dentro da grande indústria produzindo para um público supostamente maduro, os limites se romperam, e hoje, quase trinta anos depois, temos fãs de HQ chegando a casa dos 50.
É lógico que na década de sessenta já existiam gibis mais voltados para adultos, como as graphic novels europeias, os gibis underground americanos e tudo isso, mas eles eram de público restrito. Os quadrinhos adultos eram novidade para a grande indústria americana e para o grande público até os anos oitenta. Este fenômeno contaminou o ramo de super-heróis e "quadrinho adulto" virou uma marca, ou um status. Derepente, quadrinhos de super-herói ganhavam prêmios literários, resenhas em jornais de prestígio, elogios de escritores da chamada literatura de verdade, espaço nas livrarias e muitas outras regalias antes inimagináveis. Com o tempo, este universo perdeu seus traços de ingenuidade, infantilidade e despretensão que o havia caracterizado por décadas.
Obras como O Cavaleiro das Trevas e Watchmen lançaram uma sombra sobre todo o universo das HQs e as novas produções buscaram se basear em seu sucesso, de maneira quase sempre desastrosa. Para falar mais apropriadamente, o mito dos quadrinhos adultos se tornou uma cicatriz, um estigma na pele da indústria. Foi a chamada época do grim'n'gritty, uma subinterpretação do que autores como Frank Miller e Alan Moore haviam feito, histórias cheias de violência e angústia, supostamente realistas, com personagens perturbados. Estupros, assassinatos e mortes em massa passaram a fazer parte do universo dos homens de colante.
Como este estigma colaborou para o declínio da atual indústria de quadrinhos de super-heróis? Ora, óbvio: mesmo com a segmentação do mercado e o surgimento de selos específicos para a exploração da temática adulta, como a linha Ultimate na Marvel e a Vertigo na DC, grande parte da produção atual fincou o pé em um clima pouco ou completamente inadequado para o público tradicional de quadrinhos: as crianças e adolescentes.
Atualmente, os gibis de super-heróis sofrem com quedas nas vendas, apesar do sucesso no cinema, as marcas não conseguem se manter no formato de quadrinhos. Isso ocorre por uma série de razões. Entre os principais motivos apontados estaria o advento de novas mídias. É de se considerar que há uma certa influência, porém não muito considerável. As novas tecnologias não atrapalham o hábito de leitura entre crianças, vejam a série de livros Harry Potter pra comprovar isso. Por mais que estejamos em uma época de videogames 3D e smartphones, crianças ainda podem se apaixonar pela leitura.
Na verdade, o problema mais impactante, na minha visão, é a inadequação das histórias desenvolvidas ao seu público base e a impossibilidade de atrair novos leitores.
Como já citei aqui neste blog, minha paixão por quadrinhos começou com os super-heróis, aos dez anos de idade. Lia também os gibis Disney quando era criança. Já na adolescência, conheci outras coisas e segui renovando minha lista de leituras. Hoje se leio alguma série de super-heróis, dou preferência as de temática adulta. O tempo passa, você muda seus hábitos de leitura, mas deve haver um ponto de início que seja adequado. Você não vai convencer um menino de oito anos que quadrinhos são bons apresentando a ele A Piada Mortal, ou uma cópia mal feita dela.
Os super-heróis podem ser (e foram durante muitos anos) uma porta de entrada para o universo das HQs, no entanto, esta porta hoje é pouco convidativa. Tramas cheias de cronologia, que exigem que o leitor acompanhe diversas revistas e conheça um grande background de histórias; temas pouco atrativos para crianças, como perversão e violência gratuitas, mortes e comentários sobre problemas sociais, não servem como uma introdução ao hábito da leitura de quadrinhos. É necessário que as grandes editoras se reinventem e adequem suas linhas de produção a este objetivo.
O reboot completo da DC Comics no mês que vem teria esta razão de ser. É lógico que isto vai desagradar os velhos que se apegaram aos gibis de super-heróis e que não aceitam que estes se desliguem do estigma oitentista de "quadrinhos adultos". Mas para satisfazer este público, que sirvam os selos de universos paralelos, as graphic novels especiais e minisséries. Deve-se devolver os quadrinhos de super-heróis de volta ás suas origens, como uma diversão descompromissada que os pais compravam para seus filhos para que eles passassem o tempo. Esta indústria não pode ser refém de velhos fanáticos que fantasiam um universo de ficção que lhes pertence, um mundo intocável que deve se adequar a seus desejos.
Quer um exemplo que deu certo? Não é preciso que se olhe muito longe. Enquanto os gibis de Homem- Aranha e Superman não conseguem mais vender nem cem mil cópias nos EUA, aqui mesmo, no Brasil, a Turma da Mônica Jovem vende trezentos, quinhentos mil exemplares. São crianças e adolescentes que compram e as histórias são leves, descompromissadas, sem cronologia estúpida, mortes e discurso pseudo literário ou político.
Não to falando isso como elogio a Mauricio de Souza, quem me lê sabe que não sou dessa classe de puxa-sacos que tem por ai na blogosfera. Eu particularmente não gosto desse gibi, não foi feito pra mim, mas reconheço seus méritos. E se os gibis de super-heróis tivessem esse sucesso, como já tiveram, em sua época? Mesmo que as histórias tivessem de ser adequadas a um clima mais descompromissado, algo mais tipo Harry Potter, mais Smallville... por que não? Era assim antigamente, na época do Comics Code Authority. Você é um daqueles que não vai gostar, você é um velho. Mas e daí? Problema seu! Dane-se! Não será feito pra você e já tá na hora de você renovar seus hábitos de leitura.
Eu comecei com super-heróis, mas hoje o que eu leio é Vertigo, Jimmy Corrigan, O Fotógrafo, Fun Home, Corto Maltese, Robert Crumb, etc. Eu larguei o osso dos super-heróis, faça isso você também e ajude a salvar a indústria.
O público de HQs está envelhecido. Antigamente as pessoas paravam de ler gibis no máximo ao fim da adolescência, os poucos que continuavam eram pessoas ligadas a sua produção: jornalistas, artistas, escritores, editores, comerciantes, ou pessoas intelectualmente subdesenvolvidas, pra não dizer, retardadas mesmo. Uma minoria que jamais manteria a indústria funcionando. Porém, na virada dos anos oitenta para os noventa, aconteceu um fenômeno nunca antes visto: a partir do boom dos chamados "quadrinhos adultos" no seio da indústria americana de super-heróis, passou a haver uma desculpa para que as massas continuassem a ler quadrinhos para além dos vinte anos de idade.
Afinal, na medida em que o senso comum passou a aceitar que ler quadrinhos não era um hábito exclusivamente infantil e surgiram muitos autores dentro da grande indústria produzindo para um público supostamente maduro, os limites se romperam, e hoje, quase trinta anos depois, temos fãs de HQ chegando a casa dos 50.
É lógico que na década de sessenta já existiam gibis mais voltados para adultos, como as graphic novels europeias, os gibis underground americanos e tudo isso, mas eles eram de público restrito. Os quadrinhos adultos eram novidade para a grande indústria americana e para o grande público até os anos oitenta. Este fenômeno contaminou o ramo de super-heróis e "quadrinho adulto" virou uma marca, ou um status. Derepente, quadrinhos de super-herói ganhavam prêmios literários, resenhas em jornais de prestígio, elogios de escritores da chamada literatura de verdade, espaço nas livrarias e muitas outras regalias antes inimagináveis. Com o tempo, este universo perdeu seus traços de ingenuidade, infantilidade e despretensão que o havia caracterizado por décadas.
Obras como O Cavaleiro das Trevas e Watchmen lançaram uma sombra sobre todo o universo das HQs e as novas produções buscaram se basear em seu sucesso, de maneira quase sempre desastrosa. Para falar mais apropriadamente, o mito dos quadrinhos adultos se tornou uma cicatriz, um estigma na pele da indústria. Foi a chamada época do grim'n'gritty, uma subinterpretação do que autores como Frank Miller e Alan Moore haviam feito, histórias cheias de violência e angústia, supostamente realistas, com personagens perturbados. Estupros, assassinatos e mortes em massa passaram a fazer parte do universo dos homens de colante.
Como este estigma colaborou para o declínio da atual indústria de quadrinhos de super-heróis? Ora, óbvio: mesmo com a segmentação do mercado e o surgimento de selos específicos para a exploração da temática adulta, como a linha Ultimate na Marvel e a Vertigo na DC, grande parte da produção atual fincou o pé em um clima pouco ou completamente inadequado para o público tradicional de quadrinhos: as crianças e adolescentes.
Atualmente, os gibis de super-heróis sofrem com quedas nas vendas, apesar do sucesso no cinema, as marcas não conseguem se manter no formato de quadrinhos. Isso ocorre por uma série de razões. Entre os principais motivos apontados estaria o advento de novas mídias. É de se considerar que há uma certa influência, porém não muito considerável. As novas tecnologias não atrapalham o hábito de leitura entre crianças, vejam a série de livros Harry Potter pra comprovar isso. Por mais que estejamos em uma época de videogames 3D e smartphones, crianças ainda podem se apaixonar pela leitura.
Na verdade, o problema mais impactante, na minha visão, é a inadequação das histórias desenvolvidas ao seu público base e a impossibilidade de atrair novos leitores.
Como já citei aqui neste blog, minha paixão por quadrinhos começou com os super-heróis, aos dez anos de idade. Lia também os gibis Disney quando era criança. Já na adolescência, conheci outras coisas e segui renovando minha lista de leituras. Hoje se leio alguma série de super-heróis, dou preferência as de temática adulta. O tempo passa, você muda seus hábitos de leitura, mas deve haver um ponto de início que seja adequado. Você não vai convencer um menino de oito anos que quadrinhos são bons apresentando a ele A Piada Mortal, ou uma cópia mal feita dela.
Os super-heróis podem ser (e foram durante muitos anos) uma porta de entrada para o universo das HQs, no entanto, esta porta hoje é pouco convidativa. Tramas cheias de cronologia, que exigem que o leitor acompanhe diversas revistas e conheça um grande background de histórias; temas pouco atrativos para crianças, como perversão e violência gratuitas, mortes e comentários sobre problemas sociais, não servem como uma introdução ao hábito da leitura de quadrinhos. É necessário que as grandes editoras se reinventem e adequem suas linhas de produção a este objetivo.
O reboot completo da DC Comics no mês que vem teria esta razão de ser. É lógico que isto vai desagradar os velhos que se apegaram aos gibis de super-heróis e que não aceitam que estes se desliguem do estigma oitentista de "quadrinhos adultos". Mas para satisfazer este público, que sirvam os selos de universos paralelos, as graphic novels especiais e minisséries. Deve-se devolver os quadrinhos de super-heróis de volta ás suas origens, como uma diversão descompromissada que os pais compravam para seus filhos para que eles passassem o tempo. Esta indústria não pode ser refém de velhos fanáticos que fantasiam um universo de ficção que lhes pertence, um mundo intocável que deve se adequar a seus desejos.
Quer um exemplo que deu certo? Não é preciso que se olhe muito longe. Enquanto os gibis de Homem- Aranha e Superman não conseguem mais vender nem cem mil cópias nos EUA, aqui mesmo, no Brasil, a Turma da Mônica Jovem vende trezentos, quinhentos mil exemplares. São crianças e adolescentes que compram e as histórias são leves, descompromissadas, sem cronologia estúpida, mortes e discurso pseudo literário ou político.
Não to falando isso como elogio a Mauricio de Souza, quem me lê sabe que não sou dessa classe de puxa-sacos que tem por ai na blogosfera. Eu particularmente não gosto desse gibi, não foi feito pra mim, mas reconheço seus méritos. E se os gibis de super-heróis tivessem esse sucesso, como já tiveram, em sua época? Mesmo que as histórias tivessem de ser adequadas a um clima mais descompromissado, algo mais tipo Harry Potter, mais Smallville... por que não? Era assim antigamente, na época do Comics Code Authority. Você é um daqueles que não vai gostar, você é um velho. Mas e daí? Problema seu! Dane-se! Não será feito pra você e já tá na hora de você renovar seus hábitos de leitura.
Eu comecei com super-heróis, mas hoje o que eu leio é Vertigo, Jimmy Corrigan, O Fotógrafo, Fun Home, Corto Maltese, Robert Crumb, etc. Eu larguei o osso dos super-heróis, faça isso você também e ajude a salvar a indústria.
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3 Comentários:
Um pouco moralista mas segue com coerencia. Não sei se concordo com frases como se o quadrinho estivesse em crise.. os quadrinhos nos anos 90 sim estavam em crise, justamente quando apostavam em temas mais bobinhos e apelação visual (o que é mais digerível aos mais novos)
Concordo em partes. Acho que esse negócio de cronologias infindáveis é algo que afasta os leitores, não importando a idade. Ao meu ver, o pau que os quadrinhos americanos vêm tomando dos mangás tem a ver com isso. Se tem alguém que tem que largar o osso é a Marvel e a DC, que publicam tudo ad infinitum. Watchmen é uma história só e se fala dela até hoje. O mesmo com Dragon Ball. Ou Hellboy, com uma quantidade humanamente sensata de histórias. Esse esquema de capitalização constante tem que ser revisto. Mais do que " devolver os quadrinhos às crianças" . Esta pode ser uma saída, mas não acho que as coisas devam voltar a ser assim só porque já o foram um dia.
Eric lovric
Mondovazio.com.br
É fato que há um grande número de leitores adultos lendo quadrinhos de super-heróis? Não sei se dá pra afirmar isso, ainda vejo muita molecada comprando gibi. Tem alguma estatística que comprove? Senão acaba virando preconceito comtra os adultos que leem super-heróis. Como o Tavares, tbem prefiro hoje HQs tipo Vertigo, europeus etc. Mas não me sinto deslocado em vez ou outra dar uma olhada no que acontece no universo dos heróis. Agora concordo, claro, que a abordagem nas histórias deve ser pertinente ao público leitor.
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