24 de ago. de 2011

Notas sobre as polêmicas de Grant Morrison


Miles Morales, o Aranha moreninho, é polêmico, Miles Morales é um sucesso, recordes de vendas. Superman rejeita a cidadania americana, Superman é um sucesso, a revista esgotou. A DC muda tudo e causa polêmica, a DC é um sucesso, Justice League #1 já tem 200 mil exemplares encomendados. Alan Moore chuta a bunda da indústria, Alan Moore é um sucesso. Polêmica faz sucesso.

Aqui mesmo neste blog as postagens mais lidas são as mais polêmicas. Na última postagem, a entrevista de Grant Morrison para a Rolling Stone, cometi um deslize, disse que concordava com todas as suas palavras. Não é verdade. Grant Morrison acabou de lançar seu livro Supergods, por isso, ele precisa de polêmica, precisa alimentar as vendas de seu livro e da Action Comics #1, que vai assinar.

Estive lendo algumas coisas que ele falou nos últimos dias e decidi comentar. Por exemplo:

Sobre Batman e Superman saiu no Omelete (via fonte secreta Bleeding Cool):

"Superman passou a infância colhendo feno em uma fazenda e é um herói da classe operária, por isso as pessoas não gostam dele. Já o Batman é um bilionário que dorme até as três da tarde, veste uma roupa de borracha e sai pra dar porrada nos pobres. É uma fantasia dos nossos desejos."

Ora, vamos falar a verdade, isso pode empolgar algumas pessoas que ainda acreditam em um mito chamado "luta de classes", pobres contra ricos e tal. Mas isso não tem sentido algum. O sentido de ser um herói é vencer suas próprias limitações. Isso sempre teve presente na cultura americana com todas aquuelas histórias de superação e tudo. Este é o sentido da existência de Batman e Superman.

Batman vence suas limitações como ser humano e se transforma em um super-herói digno de conviver e lutar junto com os seres mais poderosos do mundo, na Liga da Justiça. Superman vence sua condição de estrangeiro, alienígena, e se dedica a ajudar o planeta que o acolheu, a ponto de ser aceito como um humano normal em sua identidade de Clark Kent.

Eles não se limitam as suas classes sociais. Isso é besteira. Batman não da porrada só em pobres, mas em quem transgride a lei, não importa se é pobre ou rico. Superman é tão poderoso que não precisa de bens materiais e não se dedica a ajudar somente pobres, mas todos os seres humanos. O que Morrison quer é criar a sua versão da dicotomia entre os dois personagens inventada por Frank Miller em Cavaleiro das Trevas. Mas ele não é Frank Miller e sua visão moderninha não vai colar em um mundo como o nosso.

Outra afirmação de Morrison que gerou polêmica, sobre a Mulher Maravilha:

"Superman é a expressão máxima da masculinidade e pode ter algo de sexual, mas a Mulher-Maravilha devia ser a expressão máxima da feminilidade e não se permite que ela chegue perto de sexo"

Os sites especializados começaram a replicar a ideia de que ele queria inserir sexo nas histórias da Amazona. Mas vamos falar a verdade, ele se referia ao feminismo, e não a erotismo ou pornografia em sí. Não há nada menos sexy do que o feminismo. Sinceramente, odeio feministas e a Mulher Maravilha foi criada como o arquetipo de uma feminista. Isso não significa que ela vai sair transando por aí, mas que ele poderá reinserir o feminismo como tema das histórias. Nojento. Mas a polêmica esta feita e ele vai ganhar com isso.

Na entrevista para a Rolling Stone, Morrison falou mal de Chris Ware, autor de Jimmy Corrigan.

"Eu posso apreciar alguém como Chris Ware pela sua arte, que eu acho bonita, mas eu acho que a sua atitude fede. Parece ser a atitude de alguém realmente privilegiado,"

"Então, eu nunca gostei desse material, sempre achei que realmente tenho algo da classe trabalhadora escocêsa contra o fato de que esse material foi feito por garotos universitários americanos privilegiados, e eles estão me dizendo que o mundo é insípido. "Cara, você ta me dizendo que o mundo é insípido?"' E isso não é útil, não leva ninguém a lugar nenhum. OK, é isso ai, e ai? O que você vai fazer com relação a isso, garoto universitário? "

Chris Ware é conhecido pelas suas HQs difíceis, intelectualizadas, cheias de referências a história, conceitos e técnicas das artes gráficas. Pra falar a verdade, é intragável, chato, feio, arrogante e pretensioso, mas é uma grande obra em termos de forma, de criação conceitual.

O problema é que tudo isso é desnecessário, os quadrinhos não precisam disso, essa intelectualidade forçada levou as artes plásticas a um estado lastimável. Hoje não há quem entre em uma galeria de arte e não se sinta ultrajado. Para você compreender uma obra precisa de mil referências ulteriores. Não há mais prazer e contato com o público. Não gostaria que isso acontecesse com as HQs. E é nesse caminho que as obras de Chris Ware apontam.

Fazem a alegria de academicos que querem se sentir pós-pós-modernos lendo quadrinhos, mas fazem um mal a linguagem em sí. Quadrinhos são entretenimento e não podem existir em uma redoma de conceitos, inacessíveis. Com relação ao conteúdo, Morrison o critica por ser aquela coisa niilista "ah, como a existência é ruim". Com relação a isso ele erra. Não vejo nada mal no conteúdo das obras de Chris Ware, o que me incomoda é a forma. É lógico que é insuportável ver pessoas ricas e bem educadas, nascidas no melhor país do mundo, reclamando da existência e chorando coisas como "ah, sou um fracassado, meu pai não gosta de mim". Mas fazer o quê? Isso é provavelmente tão banal quanto "sete musculosos de colante reunidos pra salvar o mundo de uma grande ameaça". Cada um escolhe o tema que achar mais importante.

Mas a polêmica esta feita.

Outra coisa sobre Morrison que já sabemos é que ele ascendeu na carreira fazendo comentários negativos sobre Watchmen de Alan Moore, o chamado Caso Superfolks. Dessa vez ele ataca seu mestre oculto dizendo que ele é obcecado por estupro:

"eu estava lendo umas edições do Marvelman escritas pelo Alan Moore. Ví uma coisa lá que eu não pude acreditar. Verifiquei que tinha duas merdas de estupros lá e ai eu pensei, quantas vezes alguém é estuprado em uma história de Alan Moore? E não consegui encontrar nenhuma onde alguém não fosse estuprado, exceto Tom Strong, que eu acredito ser um pastiche. Nós sabemos que Alan Moore não é um misógino, mas porra, ele é obcecado com estupro."

Verdade! As obras de Alan Moore tem uma certa conotação sexual que sempre aborda a violência contra mulheres. Certa vez ele se defendeu dizendo que assassinatos sempre são mostrados em HQs e nem por isso as pessoas reclamam, mas quando ele mostra um estuprozinho, ai todo mundo fala um monte.

Bem, eu acho que não tem nada de mais se o cara querer usar a violência como recusro dramático, mesmo que seja violência sexual contra mulheres, a coisa mais nojenta do mundo, mas temos de convir que há algo estranho quando o sujeito insiste em um mesmo tema. Em arte temas recorrentes são comuns. Will Eisner, por exemplo, sempre implicava na questão do imigrante e do racismo, por que ele era um filho de imigrantes e sofreu com o racismo, além do que, provavelmente se achava de uma raça superior, por ser judeu. Lourenço Mutarelli sempre fala em depressão e manias, ele próprio foi um maníaco depressivo. Crumb mostra taras sexuais, sendo ele próprio um pervertido. Alan Moore deve ter algo com o estupro.


E aqui chegamos a conclusão mais óbvia: Grant Morrison lança suas polêmicas, ele vai vender mais livros e gibis. Ponto final. A polêmica é a alma do negócio. Aprenda com ele.




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