Vestibular sugere que super-heróis representam racismo e "imperialismo americano"
Há muito que a educação brasileira vem sendo manipulada com fins ideológicos. Jovens e crianças são expostos a uma saraivada de conceitos esquerdistas por professores ligados a sindicatos e partidos. Provas de vestibular de faculdades públicas e do ENEM sugerem respostas que estão de acordo com a ideologia oficial do governo petista.
Quadrinhos estão presentes no imaginário popular hoje mais do que nunca e eu já sabia que eles são amplamente utilizados para fazer proselitismo. Uma prova disso é o uso excessivo de tiras da Mafalda em exames públicos, sempre com uma sugestão descarada de repostas de cunho ideológico.
Dessa vez, uma questão de vestibular da Universidade Estadual de Londrina (UEL) chegou ao cúmulo de sugerir que super-heróis representam a supremacia da raça branca e a dominação americana sobre outros povos, leia a matéria abaixo do Jornal de Londrina que no final eu volto pra comentar:
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Super-heróis “escondem” supremacia dos brancos, segundo UEL
Uma questão sobre super-heróis na prova da 1ª fase do Vestibular 2012 da Universidade Estadual de Londrina (UEL) provocou a indignação de candidatos, principalmente daqueles que conhecem um pouco mais a fundo os quadrinhos. A forma como ela foi apresentada abre espaço para alguns questionamentos. A pergunta aborda os superpoderes de alguns super-heróis e diz que, “mais que superpoderosos”, eles escondem um segredo. Entre as alternativas corretas, segundo o gabarito oficial, estão reforçar a ideologia de uma nação soberana, a “estadunidense”, e veicular a crença da supremacia dos brancos, enquanto raça mais forte e inteligente. Esta última contestada por professores de história e sociologia e especialistas em quadrinhos.
O professor de história do Colégio Londrinense, Rafael Ferreira, considerou a questão impertinente e irresponsável. “Compromete nosso trabalho. A gente se esforça nas aulas para fazer com que o aluno chegue na prova isento de qualquer tendência política. O maior problema não é a postura política de quem elaborou a prova, mas é colocar isso num exame de vestibular para adolescentes. Ela adota descaradamente um posicionamento”, disse. Segundo ele, a questão colocada não condiz com a realidade e faz com o que o aluno que pensa de outra forma, fique fora do vestibular.
"O Super-Homem ganha poderes pelos efeitos dos raios solares, mas tem uma fraqueza: o minério criptonita. O Homem-Aranha adquire habilidades depois da picada de um aracnídeo. O Quarteto-Fantástico nasce dos efeitos de uma tempestade cósmica. Uma um, os elementos da natureza tornam-se importantes para o nascimento de vários super-heróis.
Porém, mais do que superpoderosos, esses heróis de Histórias em Quadrinhos (HQ) também “escondem um segredo”:
I. Reforçam a ideologia de uma nação soberana, a estadunidense, protegida dos inimigos, o que a credenciaria como mantenedora da liberdade mundial.
II. Veiculam subliminarmente a crença da supremacia dos brancos, enquanto suposta raça mais forte e inteligente face aos demais grupos étnicos do planeta.
III. Defendem a ideologia da igualdade necessária entre as classes, sem a qual o mundo não poderia viver em paz e em harmonia.
IV. Reconhecem que os verdadeiros super-heróis não precisam de superpoderes, desde que sejam pessoas boas e altruístas.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
b) Somente as afirmativas I e III são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
Resposta correta: letra A
A pergunta faz uma breve relação dos poderes dos personagens dos HQs, como Super-Homem e Homem-Aranha, com a natureza. Mas afirma que eles “escondem um segredo”. As respostas I e II revelam: “(os heróis) veiculam subliminarmente a crença da supremacia dos brancos, enquanto suposta raça mais forte e inteligente face aos demais grupos étnicos do planeta”. [confira a pergunta completa]
Na opinião do professor de história e sociologia do Colégio Universitário e MedMagno, Marcos Ursi, a questão não é clara. “Tenho alunos que conhecem de quadrinhos e ficaram indignados”, contou. Para ele, o maior problema está na afirmativa II, considerada como correta pelo gabarito oficial da prova, que fala da supremacia branca. Segundo ele, se o mérito da questão foi discutir a ideologia presente nos quadrinhos, ela se justifica. “Só acho que as duas primeiras alternativas não lembram que o universo de quadrinhos é maior que isso”, apontou.
Para o quadrinista Gustavo Duarte, de São Paulo, a questão é “patética” e todas as alternativas apresentadas estão incorretas. “A pergunta não tem resposta, é subjetiva. Cada aluno poderia responder o que quisesse”, avaliou. Segundo ele, os quadrinhos são entretenimento. “Estamos falando de personagens que vestem roupas coloridas, escalam prédios, não é sério. Se tivesse uma resposta que falasse da supremacia dos alienígenas sobre os seres humanos eu colocaria essa como correta, por causa do super-homem”, disparou.
O pai de um candidato, que preferiu não se identificar, resume indignado: “Estamos falando de opiniões, interesses políticos e não ciência. Já em 1960 a indústria de gibis americanos tinha heróis da raça negra e também vermelha”.
Conceitos da sociologia
A diretora pedagógica da Coordenadoria de Processos Seletivos (Cops) da UEL, Cristina Valéria Bulhões Simon, disse que a pergunta sobre os super-heróis foi formulada com base em conceitos da disciplina de sociologia, mas ela não soube apontar quais deles. Segundo ela, no próximo dia 7, a UEL vai divulgar o gabarito completo com as justificativas das respostas da prova. “Não vou dizer que não existe uma ideologia. Mas professores não podem ser irresponsáveis a ponto de fazer uma questão que só agrade a eles. A prova é feita coletivamente”, apontou. Cerca de 20 professores participam da elaboração das questões.
Consultado pela reportagem do JL, o professor do departamento de Ciências Sociais da UEL Ariovaldo Santos, que não participou da elaboração da prova, disse que dois conceitos podem ser trabalhados na questão: o da indústria cultural e dos mecanismos ideológicos de dominação. “Seguramente faz parte da grade curricular dos alunos”, garantiu.
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O absurdo é tão grande que eu não poderia deixar de comentar e revelar aos leitores o que acontece!
Os super-heróis realmente foram utilizados na propaganda do esforço de guerra americano na década de 1940. Superman foi um deles e o Capitão América foi criado com esse fim, nenhuma novidade, todos sabem disso. Da mesma maneira que sabemos que essa questão não é o mais importante na mitologia destes personagens e não está presente na maior parte de suas histórias.
Pelo contrário, quando surgiu, Superman, o primeiro super-herói, era uma espécie de defensor da justiça social, sem levar em consideração classes ou raças, ele próprio sendo um alienígena. Batman, apesar de ser um bilionário, combatia o crime em todas as esferas sociais e o Homem-Aranha representava os jovens de classe média baixa. O patriotismo já foi questionado inúmeras vezes, até mesmo em histórias do Capitão América, e em pleno século XXI, com os EUA envolvidos em duas guerras, essa questão já se encontra definitivamente superada.
Já a acusação de racismo não passa de calúnia. Na década de 1960, vários personagens negros ganharam destaque, como Luke Cage e o Pantera Negra, e hoje sabemos que existe uma versão negra do Homem-Aranha. Os super-heróis sempre se opuseram ao racismo e questões étnicas sempre foram discutidas abertamente nas HQs dos X-Men.
No entanto, este conceito ultrapassado sugerido pela pergunta da prova, de que os super-heróis escondem uma ideologia de supremacia de raça ou de um país sobre outros, ainda permanece. Ele surgiu a partir dos estudos de Frederic Wertham, no famigerado livro A Sedução dos Inocentes, de 1954. Poucos sabem, mas Wertham era um psiquiatra preocupado com problemas sociais que atingiam a juventude americana. Ele nunca odiou quadrinhos, mas foi pioneiro no estudo de sua influência sobre o comportamento dos jovens. Como vemos neste documentário ele afirmava que Superman seria um personagem fascista e tentava associá-lo ao conceito de raça superior da Alemanha Nazista.
Wertham era um esquerdista, um ativista social que trabalhava com jovens pobres e estava preocupado com a suposta influência negativa exercida pelos quadrinhos no comportamento de delinquentes. Algo muito parecido com os politicamente corretos de hoje que acham que um video game pode incentivar a violência ou um comercial de TV pode levar ao preconceito de gênero ou raça. Graças a seus estudos, Wertham conseguiu que se criasse uma campanha social de censura as HQs e o desenvolvimento do chamado Comics Code.
Com o tempo, esse (pre) conceito de que os super-heróis (e a maior parte dos quadrinhos americanos!) são expressões do "imperialismo" se tornou popular no meio acadêmico, principalmente após os estudos de dois "intelectuais" de esquerda, o chileno Ariel Dorfman e o belga Armand Mattelart. No livro Para Ler o Pato Donald, de 1972, eles denunciam os quadrinhos da Disney como um instrumento de dominação cultural.
O livro teve grande impacto e foi seguido de Super-Homem e Seus Amigos do Peito, de Dorfman e Manuel Jofré, dessa vez enfocando os super-heróis, sempre com uma abordagem marxista que leva em consideração uma suposta ideologia oculta nas histórias.
Esse padrão de abordagem nos estudos sobre quadrinhos por acadêmicos se vulgarizou nos anos 1970 e 80, a partir de artigos de Umberto Eco, e no Brasil, nos artigos de Moacy Cirne e Nildo Viana, todos marxistas. Este último desenvolveu uma suposta "sociologia dos quadrinhos" a partir do trabalho do marxista francês Jacques Marny apresentado no livro Sociologia das histórias aos quadradinhos.
A maior parte dos trabalhos acadêmicos sobre o tema feitos no Brasil tem como método a "axiologia", que seria a ciência que estuda o padrão dominante de valores em determinada sociedade, e não passa na verdade de uma maneira que Nildo Viana achou de relacionar os super-heróis a uma suposta ideologia do que ele chama de "classe dominante capitalista". As ideias deste "intelectual" são muito influentes em monografias sobre quadrinhos.
De fato, para elucidar a questão, encontrei a possível origem da pergunta feita neste vestibular. Ela parece ter sido retirada diretamente de seu artigo "Super-heróis e Axiologia", veja o trecho:
"Mas como surge um super-herói? (...) Os super-heróis que nascem humanos adquirem seus super-poderes por três vias diferentes: a) através de suas habilidades físicas e mentais excepcionais criam roupas e instrumentos que multiplicam suas capacidades. b) através do contato com radioatividade, energia nuclear ou cósmica, etc., eles realizam um mutação e adquirem super-poderes. O Homem-Aranha ganha seus poderes graças a uma picada de uma aranha contaminada com radioatividade; o Quarteto Fantástico (Homem-Elástico, o Coisa, Tocha Humana e Mulher-Invisível) adquire seus poderes após pousar numa ilha infectada de radioatividade cósmica; Hulk através da exposição do cientista Bruce Banner (no seriado da televisão, David Banner) aos raios gama; o Surfista Prateado através dos poderes cósmicos doados a ele por Galactus; c) através da iniciação no mundo da magia, onde se adquire poderes mágicos, tal como é o caso do Dr. Estranho."
Em seguida o autor acrescenta
"Os super-heróis não são apenas aquilo que se vê nas revistas em quadrinhos. Existe algo mais que não está escrito ou desenhado. Trata-se da emergência dos super-heróis. Por qual motivo surgem os super-heróis? Para respondermos esta questão teremos que, brevemente, tratar da relação entre super-heróis e sociedade." (...)
"Muitos heróis e super-heróis foram acusados de serem axiológicos (“ideológicos”) devido ao racismo que se vê em alguns deles e isto reflete, em alguns casos, a verdade. Estes e outros aspectos axiológicos podem ser encontrados em inúmeros super-heróis."
"Mas, sem dúvida, a origem, o nome, a finalidade, a ação, as ligações com o poder oficial e o uniforme do Capitão América fazem dele o mais axiológico dos super-heróis existentes. A própria personalidade do Capitão América, marcada pelo “espírito de liderança” e “bom senso”, é expressão da axiologia norte-americana segundo a qual os Estados Unidos tem o papel de “líder mundial”."
Aqui vemos a influência de ideologias viciadas e preconceituosas na leitura que o meio acadêmico faz das histórias em quadrinhos, principalmente do gênero de super-heróis. Como um conhecedor de HQs, eu não poderia deixar de comentar o quanto esta pergunta feita em um vestibular colabora para se criar um legítimo preconceito.
Quadrinhos de super-herói não são racistas e não pregam o domínio de algum país sobre outro senão na visão de mundo de paranoicos que ainda tem a mente presa ao século retrasado e insistem em uma leitura de mundo arcaica.
O que os super-heróis representam é o triunfo do indivíduo em sociedades livres, onde existem possibilidades de desenvolvimento do potencial humano ao extremo. Não é a toa que os super-heróis surgiram e se desenvolveram nos Estados Unidos, um país que tem a liberdade e o individualismo como valores máximos. É desenvolvendo seu potencial ao ponto de superarem qualquer limite que os super-heróis se tornam úteis a sociedade, combatendo as injustiças e servindo de exemplo inspirador. O super-herói não é um ser social, mas individual, e é exemplo de qualidades máximas e ideais a serem perseguidos. Não esta preso a uma raça, classe ou país. Por isso os super-heróis não florescem em países onde a liberdade individual não é bem vista.
É lógico que esse conceito não agrada aos intelectuais de linha marxista, que veem no individualismo um mal próprio do sistema capitalista e pregam a imersão do indivíduo no meio social, como a simples peça de uma engrenagem. Daí as calúnias e o rancor que esses ideólogos demonstram quando escrevem sobre a mitologia do super-herói.
Espero que questões como essa sejam banidas de provas de vestibular, pois elas incentivam uma visão deturpada e mediocrizante da mitologia dos super-heróis e não colaboram para a compreensão do fenômeno. Além disso, não há motivo algum para ideologizar a educação além do desejo de se criar uma geração incapaz de pensar por sí e desenvolver seu potencial humano. Uma geração de repetidores de ideologias alinhadas ao governo.
Triste ver que os executores desse plano maléfico se utilizam de todos os meios para atingir seu fim, não poupando nem mesmo os super-heróis.
Quadrinhos estão presentes no imaginário popular hoje mais do que nunca e eu já sabia que eles são amplamente utilizados para fazer proselitismo. Uma prova disso é o uso excessivo de tiras da Mafalda em exames públicos, sempre com uma sugestão descarada de repostas de cunho ideológico.
Dessa vez, uma questão de vestibular da Universidade Estadual de Londrina (UEL) chegou ao cúmulo de sugerir que super-heróis representam a supremacia da raça branca e a dominação americana sobre outros povos, leia a matéria abaixo do Jornal de Londrina que no final eu volto pra comentar:
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Super-heróis “escondem” supremacia dos brancos, segundo UEL
Uma questão sobre super-heróis na prova da 1ª fase do Vestibular 2012 da Universidade Estadual de Londrina (UEL) provocou a indignação de candidatos, principalmente daqueles que conhecem um pouco mais a fundo os quadrinhos. A forma como ela foi apresentada abre espaço para alguns questionamentos. A pergunta aborda os superpoderes de alguns super-heróis e diz que, “mais que superpoderosos”, eles escondem um segredo. Entre as alternativas corretas, segundo o gabarito oficial, estão reforçar a ideologia de uma nação soberana, a “estadunidense”, e veicular a crença da supremacia dos brancos, enquanto raça mais forte e inteligente. Esta última contestada por professores de história e sociologia e especialistas em quadrinhos.
O professor de história do Colégio Londrinense, Rafael Ferreira, considerou a questão impertinente e irresponsável. “Compromete nosso trabalho. A gente se esforça nas aulas para fazer com que o aluno chegue na prova isento de qualquer tendência política. O maior problema não é a postura política de quem elaborou a prova, mas é colocar isso num exame de vestibular para adolescentes. Ela adota descaradamente um posicionamento”, disse. Segundo ele, a questão colocada não condiz com a realidade e faz com o que o aluno que pensa de outra forma, fique fora do vestibular.
"O Super-Homem ganha poderes pelos efeitos dos raios solares, mas tem uma fraqueza: o minério criptonita. O Homem-Aranha adquire habilidades depois da picada de um aracnídeo. O Quarteto-Fantástico nasce dos efeitos de uma tempestade cósmica. Uma um, os elementos da natureza tornam-se importantes para o nascimento de vários super-heróis.
Porém, mais do que superpoderosos, esses heróis de Histórias em Quadrinhos (HQ) também “escondem um segredo”:
I. Reforçam a ideologia de uma nação soberana, a estadunidense, protegida dos inimigos, o que a credenciaria como mantenedora da liberdade mundial.
II. Veiculam subliminarmente a crença da supremacia dos brancos, enquanto suposta raça mais forte e inteligente face aos demais grupos étnicos do planeta.
III. Defendem a ideologia da igualdade necessária entre as classes, sem a qual o mundo não poderia viver em paz e em harmonia.
IV. Reconhecem que os verdadeiros super-heróis não precisam de superpoderes, desde que sejam pessoas boas e altruístas.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
b) Somente as afirmativas I e III são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
Resposta correta: letra A
A pergunta faz uma breve relação dos poderes dos personagens dos HQs, como Super-Homem e Homem-Aranha, com a natureza. Mas afirma que eles “escondem um segredo”. As respostas I e II revelam: “(os heróis) veiculam subliminarmente a crença da supremacia dos brancos, enquanto suposta raça mais forte e inteligente face aos demais grupos étnicos do planeta”. [confira a pergunta completa]
Na opinião do professor de história e sociologia do Colégio Universitário e MedMagno, Marcos Ursi, a questão não é clara. “Tenho alunos que conhecem de quadrinhos e ficaram indignados”, contou. Para ele, o maior problema está na afirmativa II, considerada como correta pelo gabarito oficial da prova, que fala da supremacia branca. Segundo ele, se o mérito da questão foi discutir a ideologia presente nos quadrinhos, ela se justifica. “Só acho que as duas primeiras alternativas não lembram que o universo de quadrinhos é maior que isso”, apontou.
Para o quadrinista Gustavo Duarte, de São Paulo, a questão é “patética” e todas as alternativas apresentadas estão incorretas. “A pergunta não tem resposta, é subjetiva. Cada aluno poderia responder o que quisesse”, avaliou. Segundo ele, os quadrinhos são entretenimento. “Estamos falando de personagens que vestem roupas coloridas, escalam prédios, não é sério. Se tivesse uma resposta que falasse da supremacia dos alienígenas sobre os seres humanos eu colocaria essa como correta, por causa do super-homem”, disparou.
O pai de um candidato, que preferiu não se identificar, resume indignado: “Estamos falando de opiniões, interesses políticos e não ciência. Já em 1960 a indústria de gibis americanos tinha heróis da raça negra e também vermelha”.
Conceitos da sociologia
A diretora pedagógica da Coordenadoria de Processos Seletivos (Cops) da UEL, Cristina Valéria Bulhões Simon, disse que a pergunta sobre os super-heróis foi formulada com base em conceitos da disciplina de sociologia, mas ela não soube apontar quais deles. Segundo ela, no próximo dia 7, a UEL vai divulgar o gabarito completo com as justificativas das respostas da prova. “Não vou dizer que não existe uma ideologia. Mas professores não podem ser irresponsáveis a ponto de fazer uma questão que só agrade a eles. A prova é feita coletivamente”, apontou. Cerca de 20 professores participam da elaboração das questões.
Consultado pela reportagem do JL, o professor do departamento de Ciências Sociais da UEL Ariovaldo Santos, que não participou da elaboração da prova, disse que dois conceitos podem ser trabalhados na questão: o da indústria cultural e dos mecanismos ideológicos de dominação. “Seguramente faz parte da grade curricular dos alunos”, garantiu.
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O absurdo é tão grande que eu não poderia deixar de comentar e revelar aos leitores o que acontece!
Os super-heróis realmente foram utilizados na propaganda do esforço de guerra americano na década de 1940. Superman foi um deles e o Capitão América foi criado com esse fim, nenhuma novidade, todos sabem disso. Da mesma maneira que sabemos que essa questão não é o mais importante na mitologia destes personagens e não está presente na maior parte de suas histórias.
Pelo contrário, quando surgiu, Superman, o primeiro super-herói, era uma espécie de defensor da justiça social, sem levar em consideração classes ou raças, ele próprio sendo um alienígena. Batman, apesar de ser um bilionário, combatia o crime em todas as esferas sociais e o Homem-Aranha representava os jovens de classe média baixa. O patriotismo já foi questionado inúmeras vezes, até mesmo em histórias do Capitão América, e em pleno século XXI, com os EUA envolvidos em duas guerras, essa questão já se encontra definitivamente superada.
Já a acusação de racismo não passa de calúnia. Na década de 1960, vários personagens negros ganharam destaque, como Luke Cage e o Pantera Negra, e hoje sabemos que existe uma versão negra do Homem-Aranha. Os super-heróis sempre se opuseram ao racismo e questões étnicas sempre foram discutidas abertamente nas HQs dos X-Men.
No entanto, este conceito ultrapassado sugerido pela pergunta da prova, de que os super-heróis escondem uma ideologia de supremacia de raça ou de um país sobre outros, ainda permanece. Ele surgiu a partir dos estudos de Frederic Wertham, no famigerado livro A Sedução dos Inocentes, de 1954. Poucos sabem, mas Wertham era um psiquiatra preocupado com problemas sociais que atingiam a juventude americana. Ele nunca odiou quadrinhos, mas foi pioneiro no estudo de sua influência sobre o comportamento dos jovens. Como vemos neste documentário ele afirmava que Superman seria um personagem fascista e tentava associá-lo ao conceito de raça superior da Alemanha Nazista.
Wertham era um esquerdista, um ativista social que trabalhava com jovens pobres e estava preocupado com a suposta influência negativa exercida pelos quadrinhos no comportamento de delinquentes. Algo muito parecido com os politicamente corretos de hoje que acham que um video game pode incentivar a violência ou um comercial de TV pode levar ao preconceito de gênero ou raça. Graças a seus estudos, Wertham conseguiu que se criasse uma campanha social de censura as HQs e o desenvolvimento do chamado Comics Code.
Com o tempo, esse (pre) conceito de que os super-heróis (e a maior parte dos quadrinhos americanos!) são expressões do "imperialismo" se tornou popular no meio acadêmico, principalmente após os estudos de dois "intelectuais" de esquerda, o chileno Ariel Dorfman e o belga Armand Mattelart. No livro Para Ler o Pato Donald, de 1972, eles denunciam os quadrinhos da Disney como um instrumento de dominação cultural.
O livro teve grande impacto e foi seguido de Super-Homem e Seus Amigos do Peito, de Dorfman e Manuel Jofré, dessa vez enfocando os super-heróis, sempre com uma abordagem marxista que leva em consideração uma suposta ideologia oculta nas histórias.
Esse padrão de abordagem nos estudos sobre quadrinhos por acadêmicos se vulgarizou nos anos 1970 e 80, a partir de artigos de Umberto Eco, e no Brasil, nos artigos de Moacy Cirne e Nildo Viana, todos marxistas. Este último desenvolveu uma suposta "sociologia dos quadrinhos" a partir do trabalho do marxista francês Jacques Marny apresentado no livro Sociologia das histórias aos quadradinhos.
A maior parte dos trabalhos acadêmicos sobre o tema feitos no Brasil tem como método a "axiologia", que seria a ciência que estuda o padrão dominante de valores em determinada sociedade, e não passa na verdade de uma maneira que Nildo Viana achou de relacionar os super-heróis a uma suposta ideologia do que ele chama de "classe dominante capitalista". As ideias deste "intelectual" são muito influentes em monografias sobre quadrinhos.
De fato, para elucidar a questão, encontrei a possível origem da pergunta feita neste vestibular. Ela parece ter sido retirada diretamente de seu artigo "Super-heróis e Axiologia", veja o trecho:
"Mas como surge um super-herói? (...) Os super-heróis que nascem humanos adquirem seus super-poderes por três vias diferentes: a) através de suas habilidades físicas e mentais excepcionais criam roupas e instrumentos que multiplicam suas capacidades. b) através do contato com radioatividade, energia nuclear ou cósmica, etc., eles realizam um mutação e adquirem super-poderes. O Homem-Aranha ganha seus poderes graças a uma picada de uma aranha contaminada com radioatividade; o Quarteto Fantástico (Homem-Elástico, o Coisa, Tocha Humana e Mulher-Invisível) adquire seus poderes após pousar numa ilha infectada de radioatividade cósmica; Hulk através da exposição do cientista Bruce Banner (no seriado da televisão, David Banner) aos raios gama; o Surfista Prateado através dos poderes cósmicos doados a ele por Galactus; c) através da iniciação no mundo da magia, onde se adquire poderes mágicos, tal como é o caso do Dr. Estranho."
Em seguida o autor acrescenta
"Os super-heróis não são apenas aquilo que se vê nas revistas em quadrinhos. Existe algo mais que não está escrito ou desenhado. Trata-se da emergência dos super-heróis. Por qual motivo surgem os super-heróis? Para respondermos esta questão teremos que, brevemente, tratar da relação entre super-heróis e sociedade." (...)
"Muitos heróis e super-heróis foram acusados de serem axiológicos (“ideológicos”) devido ao racismo que se vê em alguns deles e isto reflete, em alguns casos, a verdade. Estes e outros aspectos axiológicos podem ser encontrados em inúmeros super-heróis."
"Mas, sem dúvida, a origem, o nome, a finalidade, a ação, as ligações com o poder oficial e o uniforme do Capitão América fazem dele o mais axiológico dos super-heróis existentes. A própria personalidade do Capitão América, marcada pelo “espírito de liderança” e “bom senso”, é expressão da axiologia norte-americana segundo a qual os Estados Unidos tem o papel de “líder mundial”."
Aqui vemos a influência de ideologias viciadas e preconceituosas na leitura que o meio acadêmico faz das histórias em quadrinhos, principalmente do gênero de super-heróis. Como um conhecedor de HQs, eu não poderia deixar de comentar o quanto esta pergunta feita em um vestibular colabora para se criar um legítimo preconceito.
Quadrinhos de super-herói não são racistas e não pregam o domínio de algum país sobre outro senão na visão de mundo de paranoicos que ainda tem a mente presa ao século retrasado e insistem em uma leitura de mundo arcaica.
O que os super-heróis representam é o triunfo do indivíduo em sociedades livres, onde existem possibilidades de desenvolvimento do potencial humano ao extremo. Não é a toa que os super-heróis surgiram e se desenvolveram nos Estados Unidos, um país que tem a liberdade e o individualismo como valores máximos. É desenvolvendo seu potencial ao ponto de superarem qualquer limite que os super-heróis se tornam úteis a sociedade, combatendo as injustiças e servindo de exemplo inspirador. O super-herói não é um ser social, mas individual, e é exemplo de qualidades máximas e ideais a serem perseguidos. Não esta preso a uma raça, classe ou país. Por isso os super-heróis não florescem em países onde a liberdade individual não é bem vista.
É lógico que esse conceito não agrada aos intelectuais de linha marxista, que veem no individualismo um mal próprio do sistema capitalista e pregam a imersão do indivíduo no meio social, como a simples peça de uma engrenagem. Daí as calúnias e o rancor que esses ideólogos demonstram quando escrevem sobre a mitologia do super-herói.
Espero que questões como essa sejam banidas de provas de vestibular, pois elas incentivam uma visão deturpada e mediocrizante da mitologia dos super-heróis e não colaboram para a compreensão do fenômeno. Além disso, não há motivo algum para ideologizar a educação além do desejo de se criar uma geração incapaz de pensar por sí e desenvolver seu potencial humano. Uma geração de repetidores de ideologias alinhadas ao governo.
Triste ver que os executores desse plano maléfico se utilizam de todos os meios para atingir seu fim, não poupando nem mesmo os super-heróis.
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2 Comentários:
É ruim quando apontam os problemas da humanidade, não? As tirinhas precisam ser cada vez mais apresentadas aos estudantes, pois é uma forma de desmascarar o capitalismo cruel que exclui a maior parte da população.
A maioria dos professores do História - nem todos mas uma boa parte deles! - são um bando de débeis mentais, petistas ligados a sindicatos e ao próprio PT tentando inculcar sua ideologia comunista ou socialista na cabeça dos jovens. Há inúmeros super-heróis negros, o Falcão por exemplo, aquele que foi companheiro do capitão América. O novo Lanterna Verde etc. Essas tirinhas em provas, vestibulares e concursos todas têm ideologias comunistas inseridas nas entrelinhas. Esse babaca comunista de butique que comentou ali, com o nome Renewing, fala em "apontam problemas da humanidade"...como se o comunismo e o socialismo fossem solução melhor que o capitalismo. Repito, os professores de História atualmente, tirando uns poucos que se salvam, são um bando de papagaios ligados a partidos de esquerda.
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