O uso indiscriminado das máscaras de V de Vingança
Nos EUA e na Europa, um novo movimento surgiu. Jovens ocupam lugares públicos e exigem mudanças na sociedade, em cada país há uma pauta diferente, alguns exigem o fim das interferências do mercado financeiro na economia, outros querem mesmo o fim do sistema capitalista. No Brasil, surgiu um pequeno movimento de indignados, uma imitação do original feita por estudantes de "ciências sociais" que não parece ter bandeira alguma além das velhas algaravias esquerdopatas - afinal, nosso país vai bem economicamente - mas eles ocupam locais públicos em São Paulo e Rio de Janeiro.
O Brasil esta mergulhado na corrupção, escândalos recentes levaram a renúncia e demissão de seis ministros. O Partido dos Trabalhadores, antes o mais ético de todos, mergulhou o país em um período de trevas, "nunca antes na história desse país" se viu tanta roubalheira. A mídia, especialmente os jornais Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e a revista Veja, cumprem seu papel de investigar e mostrar á sociedade o que acontece. O governo responde ameaçando censurar os meios de comunicação. Sites e blogs governistas defendem a corrupção na cara de pau, os jovens do movimento de ocupação fingem não ver nada.
O que isso tem a ver com quadrinhos? A questão é que no meio disso tudo, muitas pessoas utilizam as máscaras de Guy Fawkes, conhecidas como Máscaras de V, criadas por Alan Moore e David Lloyd na série V de Vingança. Seu uso foi popularizado pelo grupo hacker Anonymous. Como já revelei aqui, esta máscara já era usada por anarquistas há vários anos, mas hoje há uma influência dos quadrinhos na realidade que ultrapassa qualquer medida, devido principalmente as suas adaptações cinematográficas.
Esta semana a revista Veja publicou uma excelente reportagem em que denuncia os males da corrupção em nosso país e apresentou a máscara de V em sua capa, como um símbolo de indignação contra o roubo de dinheiro público. A revista faz oposição ao Governo Federal, mas a matéria foi completamente apartidária, concentrando-se em dados reais sobre a corrupção e convocando o povo a se revoltar contra este vício que tanto nos prejudica. (leia aqui).
O uso desta máscara na capa da revista causou revolta, muitos dizem que por ser uma revista conservadora, a Veja não teria o direito de utilizar este símbolo, que representaria o esquerdismo. Dai comecei a refletir: o atual uso indiscriminado desta máscara estaria de acordo com a ideia original presente na concepção do personagem de V de Vingança? O que um grupo de hackers, uma multidão indignada com a crise ecônomica ou uma gangue de jovens de classe média que não sabe como ocupar seu tempo tem a ver com o personagem de Alan Moore e David Lloyd? Qual a influência de V de Vingança na vida real?
Na graphic novel, V era um terrorista anarquista que pretendia derrubar o regime ditatorial instalado em uma Inglaterra do futuro. Sua identidade não é revelada, mas ele seria provavelmente um sobrevivente de campos de concentração que decidiu travar uma guerra solitária contra o regime, como forma de vingança. V explode prédios, tortura e mata pessoas friamente. Sua amoralidade e extrema inteligência garantem a vitória sobre o estado. No final da HQ, a causa de V ganha apoio popular e uma multidão aparece utilizando sua máscara. O terrorista é morto e entrega a missão de continuar o seu trabalho á pupila Evey, que deverá realizá-lo de forma não violenta.
V é um terrorista, um assassino cruel e um torturador. Ele não tem misericórdia nem de Evey, sua pupila e atração romântica. Em um dos capítulos da HQ ele a tortura cruelmente, com a pretensão de "libertá-la", faz na verdade uma espécie de lavagem cerebral, para que ela, uma garota até então fútil e descompromissada, passe a segui-lo.
Ele pretende destruir o Estado, não é um socialista, muito menos um conservador, não quer reformas, defende a liberdade completa e um governo feito pelo povo, sem hierarquias. Em nenhum momento ele repete qualquer discurso pronto típico dos esquerdistas sobre os males do capitalismo e bobagens do tipo, nem faz parte de organizações.
Então aqui mesmo já vemos uma grande diferença entre os manifestantes que saem as ruas ou se apresentam na internet com as máscaras de V e o personagem da graphic novel. Os manifestantes de Wall Street, os hackers anonymous e os desocupados que dormem ao relento no Anhangabaú pregam a não violência e pleiteiam democracia e reformas sociais. Os protestos que vemos no Brasil são organizados por grupos políticos que se intitulam "movimentos sociais", esses grupelhos não passam de extensões do partido da situação e se beneficiam do dinheiro público.
Radical diferença existe entre o personagem e aqueles que vestem sua máscara. Dai você poderia dizer: "Ah, mas é como a foto de Che Guevara, é a foto de um assassino psicopata, mas ela passou a ser usada como um símbolo de rebeldia dos jovens, é uma apropriação!" Tudo bem, foi mais ou menos isso que David Lloyd falou. Símbolos podem ser utilizados da maneira que desejamos.
Um ateu que acredite que as religiões representam uma forma de opressão deveria utilizar a cruz cristã como um emblema de terror. Um cristão vê nela o sacrifício do filho de Deus e acha isso belo. Os nazistas viam na águia o símbolo da superioridade da raça, os americanos veem a liberdade. E por ai vai.
Mas pelo que observei esta semana, o uso de um símbolo proveniente de uma história em quadrinhos pode gerar uma indignação um tanto quanto hipócrita em determinados setores.
O uso da máscara de V na revista Veja não se referia a história em quadrinhos ou ao filme que a tornou popular e muito menos a sua ideologia, mas sim a uma outra onda de protestos, que eu já registrei aqui (e que foi notícia até mesmo no Comics Alliance), a de brasileiros apartidários contra a corrupção. Era a isso que Veja fazia referência, e foi criticada por aqueles que acham que o símbolo só pode ser usado pelas suas próprias causas, como se fossem donos dele.
O que podemos concluir é que o uso dessa máscara se tornou indiscriminado e nenhum esta de acordo com a ideia original de terrorismo pela anarquia presente no gibi, ainda bem. A não ser que haja algum maluco por aí querendo matar autoridades e destruir prédios, o que eu espero sinceramente que não haja, porque não acho que isso vá mudar o mundo pra melhor. Do jeito que o ser humano é hoje, símbolos de poder e ditaduras se reconstroem da noite pro dia. Vejam a Líbia por exemplo, destruiram uma ditadura de forma violenta, só para que outra surgisse dos escombros.
Na cena final de V de Vingança, dois ex-integrantes do governo destruído prometem reconstruir tudo denovo. Na vida real, as "revoluções" sempre tem um fim parecido. Destroe-se o status quo, mas o que se segue é sempre o genocídio, o caos, a traição e o sangue, e outro sistema, muitas vezes pior, toma o poder. O ser humano que acredita em uma utopia e esta disposto a matar e torturar por isso não passa de um louco. V de Vingança é uma ótima graphic novel, fala de liberdade e de luta contra a tirania, mas V é uma personificação da loucura e da crueldade. Tanto que no final ele se reconhece como um monstro e conclama Evey a substituí-lo para levar adiante o seu trabalho de forma pacífica.
Já tivemos vários Vs: Hitler, Stálin, Che Guevara, Bin Laden, Mao Tse Tung, só pra citar os mais recentes. Seus exemplos provam que a violência não é uma solução mágica que vai salvar a humanidade de todos os problemas.
No mais, a máscara de V felizmente não passa de uma fantasia que perdeu o significado, e eu espero que continue assim. Como diz Rich Johnston:
"Não é um símbolo de resistência passiva, mas de terrorismo ativo. Ela está associada com a ideia de se derrubar um governo e um país. Isso pode ser muito assustador e alienante para algumas pessoas".
"É como achar que você pode derrubar um governo usando um sabre de luz ou a espada do He-Man".
O Brasil esta mergulhado na corrupção, escândalos recentes levaram a renúncia e demissão de seis ministros. O Partido dos Trabalhadores, antes o mais ético de todos, mergulhou o país em um período de trevas, "nunca antes na história desse país" se viu tanta roubalheira. A mídia, especialmente os jornais Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e a revista Veja, cumprem seu papel de investigar e mostrar á sociedade o que acontece. O governo responde ameaçando censurar os meios de comunicação. Sites e blogs governistas defendem a corrupção na cara de pau, os jovens do movimento de ocupação fingem não ver nada.
O que isso tem a ver com quadrinhos? A questão é que no meio disso tudo, muitas pessoas utilizam as máscaras de Guy Fawkes, conhecidas como Máscaras de V, criadas por Alan Moore e David Lloyd na série V de Vingança. Seu uso foi popularizado pelo grupo hacker Anonymous. Como já revelei aqui, esta máscara já era usada por anarquistas há vários anos, mas hoje há uma influência dos quadrinhos na realidade que ultrapassa qualquer medida, devido principalmente as suas adaptações cinematográficas.
Esta semana a revista Veja publicou uma excelente reportagem em que denuncia os males da corrupção em nosso país e apresentou a máscara de V em sua capa, como um símbolo de indignação contra o roubo de dinheiro público. A revista faz oposição ao Governo Federal, mas a matéria foi completamente apartidária, concentrando-se em dados reais sobre a corrupção e convocando o povo a se revoltar contra este vício que tanto nos prejudica. (leia aqui).
O uso desta máscara na capa da revista causou revolta, muitos dizem que por ser uma revista conservadora, a Veja não teria o direito de utilizar este símbolo, que representaria o esquerdismo. Dai comecei a refletir: o atual uso indiscriminado desta máscara estaria de acordo com a ideia original presente na concepção do personagem de V de Vingança? O que um grupo de hackers, uma multidão indignada com a crise ecônomica ou uma gangue de jovens de classe média que não sabe como ocupar seu tempo tem a ver com o personagem de Alan Moore e David Lloyd? Qual a influência de V de Vingança na vida real?
Na graphic novel, V era um terrorista anarquista que pretendia derrubar o regime ditatorial instalado em uma Inglaterra do futuro. Sua identidade não é revelada, mas ele seria provavelmente um sobrevivente de campos de concentração que decidiu travar uma guerra solitária contra o regime, como forma de vingança. V explode prédios, tortura e mata pessoas friamente. Sua amoralidade e extrema inteligência garantem a vitória sobre o estado. No final da HQ, a causa de V ganha apoio popular e uma multidão aparece utilizando sua máscara. O terrorista é morto e entrega a missão de continuar o seu trabalho á pupila Evey, que deverá realizá-lo de forma não violenta.
V é um terrorista, um assassino cruel e um torturador. Ele não tem misericórdia nem de Evey, sua pupila e atração romântica. Em um dos capítulos da HQ ele a tortura cruelmente, com a pretensão de "libertá-la", faz na verdade uma espécie de lavagem cerebral, para que ela, uma garota até então fútil e descompromissada, passe a segui-lo.
Ele pretende destruir o Estado, não é um socialista, muito menos um conservador, não quer reformas, defende a liberdade completa e um governo feito pelo povo, sem hierarquias. Em nenhum momento ele repete qualquer discurso pronto típico dos esquerdistas sobre os males do capitalismo e bobagens do tipo, nem faz parte de organizações.
Então aqui mesmo já vemos uma grande diferença entre os manifestantes que saem as ruas ou se apresentam na internet com as máscaras de V e o personagem da graphic novel. Os manifestantes de Wall Street, os hackers anonymous e os desocupados que dormem ao relento no Anhangabaú pregam a não violência e pleiteiam democracia e reformas sociais. Os protestos que vemos no Brasil são organizados por grupos políticos que se intitulam "movimentos sociais", esses grupelhos não passam de extensões do partido da situação e se beneficiam do dinheiro público.
Radical diferença existe entre o personagem e aqueles que vestem sua máscara. Dai você poderia dizer: "Ah, mas é como a foto de Che Guevara, é a foto de um assassino psicopata, mas ela passou a ser usada como um símbolo de rebeldia dos jovens, é uma apropriação!" Tudo bem, foi mais ou menos isso que David Lloyd falou. Símbolos podem ser utilizados da maneira que desejamos.
Um ateu que acredite que as religiões representam uma forma de opressão deveria utilizar a cruz cristã como um emblema de terror. Um cristão vê nela o sacrifício do filho de Deus e acha isso belo. Os nazistas viam na águia o símbolo da superioridade da raça, os americanos veem a liberdade. E por ai vai.
Mas pelo que observei esta semana, o uso de um símbolo proveniente de uma história em quadrinhos pode gerar uma indignação um tanto quanto hipócrita em determinados setores.
O uso da máscara de V na revista Veja não se referia a história em quadrinhos ou ao filme que a tornou popular e muito menos a sua ideologia, mas sim a uma outra onda de protestos, que eu já registrei aqui (e que foi notícia até mesmo no Comics Alliance), a de brasileiros apartidários contra a corrupção. Era a isso que Veja fazia referência, e foi criticada por aqueles que acham que o símbolo só pode ser usado pelas suas próprias causas, como se fossem donos dele.
O que podemos concluir é que o uso dessa máscara se tornou indiscriminado e nenhum esta de acordo com a ideia original de terrorismo pela anarquia presente no gibi, ainda bem. A não ser que haja algum maluco por aí querendo matar autoridades e destruir prédios, o que eu espero sinceramente que não haja, porque não acho que isso vá mudar o mundo pra melhor. Do jeito que o ser humano é hoje, símbolos de poder e ditaduras se reconstroem da noite pro dia. Vejam a Líbia por exemplo, destruiram uma ditadura de forma violenta, só para que outra surgisse dos escombros.
Na cena final de V de Vingança, dois ex-integrantes do governo destruído prometem reconstruir tudo denovo. Na vida real, as "revoluções" sempre tem um fim parecido. Destroe-se o status quo, mas o que se segue é sempre o genocídio, o caos, a traição e o sangue, e outro sistema, muitas vezes pior, toma o poder. O ser humano que acredita em uma utopia e esta disposto a matar e torturar por isso não passa de um louco. V de Vingança é uma ótima graphic novel, fala de liberdade e de luta contra a tirania, mas V é uma personificação da loucura e da crueldade. Tanto que no final ele se reconhece como um monstro e conclama Evey a substituí-lo para levar adiante o seu trabalho de forma pacífica.
Já tivemos vários Vs: Hitler, Stálin, Che Guevara, Bin Laden, Mao Tse Tung, só pra citar os mais recentes. Seus exemplos provam que a violência não é uma solução mágica que vai salvar a humanidade de todos os problemas.
No mais, a máscara de V felizmente não passa de uma fantasia que perdeu o significado, e eu espero que continue assim. Como diz Rich Johnston:
"Não é um símbolo de resistência passiva, mas de terrorismo ativo. Ela está associada com a ideia de se derrubar um governo e um país. Isso pode ser muito assustador e alienante para algumas pessoas".
"É como achar que você pode derrubar um governo usando um sabre de luz ou a espada do He-Man".
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4 Comentários:
A árvore da liberdade deve ser revigorada de vez em quando com o sangue de patriotas e tiranos: é seu fertilizante natural.
Thomas Jefferson!!
nossa que texto mais conformado, horrivel, primeiramente, a pessoa que compara Hitler com Che não deve conhecer minimamente a história, depois V não era um louco, ele usava de violencia porque era um meio que ele por todo sofrimento e desespero que passou encontrou para mudar a opressão descontrolada de um governo onde a violencia não era uma opição e sim uma necessidade. Agora com relação ao "No mais, a máscara de V felizmente não passa de uma fantasia que perdeu o significado, e eu espero que continue assim." acredito que fantasia seja voce deitar sobre o seu colchão e pensar que tudo vai se resolver sozinho com um milagre divino, alguem tem que se mexer e fazer alguma coisa, e se o meio que encontrarem for destruindo predios, então que seja, afinal é um simbulo que representa muita coisa alem de concreto e tijolo, pois desde de que criaram o simbulo da cruz, o mundo não faz outra coisa a não ser glorifica e temer a ira de um deus.
Cada idiota que aparece. Esquerdistas acham que tem direito de sair por ai matando.
Não houve lavagem cerebral. O que V mostrou para Evey foi que a liberdade verdadeira era não ter medo nem da morte...
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