2 de ago. de 2012

Os heróis e sua importância na realidade


Eu sempre gostei do debate inteligente, e sinto muito quando vejo que alguns blogs interessantes tem pouca audiência, um dos casos é o Raio Laser. Sempre leio os textos que saem por lá, mesmo que discorde da maioria deles. Hoje entrei lá e lí o texto "Duas observações envolvendo Batman Ressurge" O texto abaixo foi a minha resposta, ponho aqui unicamente pra chamar sua atenção para o blog Raio Laser, vale uma visita.

"Discordo, principalmente com relação a questão do herói enquanto figura inspiradora.

O herói é mais um arquétipo mítico que atravessa toda a história humana e é (e será) representado segundo os meios, ou mídias, de cada cultura ou período histórico. Partindo da tradição oral, chegando a literatura, até o teatro, a música, aos gibis ou filmes, e hoje até os videogames e a internet, o arquetipo heroico é uma manifestação do inconsciente coletivo.

A influencia que essas histórias exercem em nossa vida, em nossa formação individual, parte de uma necessidade psicológica que esta na raiz da constituição humana. Vamos utilizar dos meios que temos a disposição no momento para contar e recontar essas histórias, sempre.

Os heróis realizadores de grandes feitos e aqueles que representam a superação individual se manifestavam na tradição oral dos menestréis, na mitologia clássica, como você citou, mais tarde na literatura, porém não ficam por aí. Eles ressurgem em textos religiosos e ocultistas, narrativas populares e contos de fadas, literatura fantástica. Eles não morreram, nem perderam sua função educativa, apenas encontraram um novo meio para se manifestar, e hoje, época que você chama de "hyper-midiatizada", eles tem novos e variados meios, os gibis e filmes, jogos de RPG e games, e isso é natural. Novas tecnologias? Novas mídias. A pedra e o papiro fez surgir o livro, a offset com fotolito faz surgir o gibi, o computador leva os heróis pro cinema.

Eles continuam com sua função educativa, que não é de todo consciente, a não ser que se retire isso, o que, por sua vez, acontece de forma consciente ou não. Fazer isso quase sempre não funciona, porque resulta em histórias pueris, manifestações próprias do autor, que não serão reconhecidas como próprias do personagem.

Pode acontecer também uma inversão de valores e o antagonista ser mostrado como o modelo a ser seguido. Isto não acontece nos filmes de Nolan, nem no caso do Coringa nem no de Bane, mas pela crise de valores da sociedade atual, que reflete uma tentativa de abandono dos valores ocidentais, os filmes são interpretados dessa maneira.

Se isto é comercializado é porque o dinheiro é necessário para a sua produção, e não tira o seu valor. A narrativa oral é gratuita, a xilogravura exige madeira e tinta, o livro exige uma gráfica, o cinema exige uma infinidade de custos e materiais. Dizer que algo não tem valor e não deve ser levado em consideração por ser um produto comercial é besteira de marxista idiota de universidade pública que considera que tudo que é capitalista é ruim e sem valor cultural.

Os heróis se manifestaram no mundo ocidental na tradição oral grega, mas não morreram lá, o mundo cristão os manteve vivos nas narrativas das vidas dos santos, nas histórias de cavalaria da idade média, mais tarde nos romances de folhetim, na literatura de cordel, nos sermões, e mais tarde nos pulp fiction e nos gibis. Eles surgiram nessa época "hiper-midiatizada" que você citou, mas muita coisa surgiu, e eles ficaram. Eu sempre posto na página do blog uma infinidade de capas de gibis da Era de Ouro. Existia uma quantidade muito grande de material produzido, e os super-heróis sobreviveram, assim como as histórias que Homero imortalizou disputavam a atenção dos moços gregos entre muitas outras, mas só elas sobreviveram. Se isso aconteceu, não foi por acaso. Foram as histórias importantes pra nossa formação psicológica que tiveram força pra continuar.

O super-herói, o homem que desenvolve ou adquire poderes para realizar grandes feitos, é descendente direto do renascimento do ocultismo no século dezenove, quando se acreditava em um misto de darwinismo com ideias místicas. Quando se acreditava que o homem não estava completo e poderia evoluir em busca de uma forma superior.

As inúmeras sociedades ocultistas que surgem naquele período resgatam a ideia de evolução por méritos ou graça, ou mesmo por origem extra-humana, o que pode parecer em sí uma ideia não ocidental, mas é, não parecendo unicamente porque entra em conflito com nossas atuais concepções científicas, ou como você disse, os super-heróis: "são inverossímeis em sua mais crua natureza". O superman é o homem que busca usar seus poderes para o bem, o belo e o verdadeiro, sua natureza aparentemente absurda se justifica quando se mescla com os valores morais do ocidente.

Antes de Superman, os ocultistas produziam, resgatavam e propagavam histórias de homens com poderes superiores, comprometidos ou não com a moral ocidental. Desde Zanoni, pelo menos, temos histórias desse tipo na literatura ocultista. Desenvolver ou descobrir que possui poderes além do homem comum era uma obssessão na cultura de massas bem antes de Superman. Cria-se vida em Frankentein, descobre-se o outro em Dr Jekill and Mister Hyde, luta-se com o obscuro e o mal em Drácula. Nos pulp então nem se fala... E na realidade, no outro lado, fora de nossos domínios, surge o nazismo, com as mesmas crenças no homem superior, mas que não leva em consideração a moral ocidental, resultando em massacre.


Superman foi a progressão e expressão natural disso, não foi criado "especialmente como propaganda de guerra", foi a propaganda de guerra que se apoderou dele e dos super-heróis como símbolo, porque a guerra não é só matança, guerra também é valor e aprendizado, heroismo e superação. Quando Superman surge, e você já escreveu muito apropriadamente sobre isso, ele era a manifestação de valores que nós, ocidentais, acreditamos serem universais, valores de justiça, liberdade, etc; mas ele foi apropriado, o que não quer dizer que não exista ainda como uma expressão desses valores em nosso inconsciente, e ele existe.

Mendigos não se parecem com zumbis, mas zumbis podem representar a decadência da humanidade (ver Romero) , que se materializa em um homem reduzido a mendigo, e por isso, zumbis tem tanto valor."

...

2 Comentários:

Raio Laser - CIM disse...

Mauro, em primeiro lugar, agradeço o elogio ao site , e saiba que o respeito (e as discordâncias!) é mútuo. Sempre passo por aqui e seu texto sobre o atirador está ótimo.

Acho que a maneira como você amplificou o debate, agora, é inteligente e racional, e aprecio isso. Continuo com certa desconfianças quanto ao valor real dos super-heróis. Acho que o sistema cultural na era técnica dos séculos XX e XXI (vale sempre reler aquele texto do Walter Benjamin) é muito diferente dos heróis das outras eras, tão bem citados por você. E em especial na era clássica (greco-romana), quando os heróis eram encarados como verdade mítica, e não apenas como metáfora. Mas esse debate seria bem longo pra se estender aqui pela Internet. Espero que algum dia possamos nos encontrar pra debater isso pessoalmente. Valeu!

calazans disse...

Concordo, Hercules Grego, Sansão hebraico, todos são o mesmo arquétipo, lá em Santos ISHTAR ou o FRENESI das BACANTES de Dionísio manifestoou-se em uma turista no feriadão - http://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2012/11/turista-tira-roupa-e-atrai-olhares-dancando-nua-em-praia-de-santos.html

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