22 de nov. de 2010

Entrevista de Alan Moore para a revista Wired

Traduzo aqui a primeira parte da recente entrevista de Alan Moore para a revista Wired.
Meu inglês não é 100%, fiz isso apenas com objetivo de colaborar com aqueles fãs que não poderiam ler no original, então qualquer erro é só apontar que eu corrijo, assim que puder posto a segunda parte.
Acrescentei notas que podem ser úteis para o entendimento de algumas referências.

O original em inglês você pode ler aqui

Enjoy !!


Wired: Qual é o significado do Superherói? O que há de interessante em sua iconografia ou em seus arquétipos?

Alan Moore: Eu não acho que haja realmente algo interessante neste momento. Eu realmente não acho muito interessante o herói como um arquétipo. Estive distante de todo este conceito ate agora, mas comecei a refletir sobre isso.

E me correu que o superherói só tem origem nos EUA. Esse parece ser o único país que produziu este fenômeno. Sim, tivemos uma porrada de super heróis americanos originários do nosso país e possivelmente de outras partes do mundo, mas eles não são naturais para nosso ambiente. Eles são uma espécie exótica. E eu pensei e me questionei o por que disso. E eu pergunto ( talvez isto seja demasiado simplista ), não sei, mas me pergunto se a raiz do surgimento do herói na cultura americana poderia ter algo a ver com uma espécie de relutância original dos americanos em intervir em confrontos sem uma maciça superioridade tática. Quero dizer, a expressão 7 / 7 ( ele se refere ao atentado terrorista no sistema de transportes de Londres que ocorreu em 7 de julho de 2005, Nota do Tradutor ) significa algo para você ?

Wired: Claro.

Moore: Por ocasião dos atentados de 7 / 7 , foi anunciado alguns dias mais tarde que, logo que os primeiros dois trens haviam explodido, todas as forças Americanas que estavam em Londres foram levadas à distância segura pela auto-estrada M25. Após alguns dias, quando eles perceberam que era seguro voltar a Londres, eles também perceberam que pegaria mau, tipo sair correndo para fora da cidade, ao primeiro sinal de qualquer problema, quando o principal motivo para o ataque terrorista foi o apoio da Inglaterra a América na guerra do Iraque.

Me parece que a maciça superioridade tática pode ser uma chave para o fenômeno superherói . Isso por que em uma situação militar, se você tem bombas pra jogar do alto, é o equivalente a ter vindo de Krypton como um bebê e ter ganho força incomum e a capacidade de voar devido à menor gravidade da Terra. Não sei, isso pode ser uma interpretação simplista, mas essa é a maneira que eu sou levado a ver os superheróis hoje.

Não era assim pra mim. Não era isso que significava para mim quando eu era uma criança. O que eu tirava disso era este desenfreado mundo da imaginação, e o herói era um veículo perfeito para ele, quando eu era mais novo. Mas olhando para os heróis hoje, me parece uma enorme quantidade de Watchmens mas sem a ironia que em Watchmen nos usamos muito para falar sobre a tendência a abusos dessa justiça feita por vigilantes mascarados e o tipo de gente que iria com toda a certeza ser atraída a isso se estas coisas acontecessem em um mundo mais realista. Mas isso não era uma apologia.

Tenho a dizer que eu nem vejo uma revista em quadrinho, e muito menos de superherói, ha muito, muito tempo, há anos, provavelmente, quase uma década mesmo desde que eu olhei uma com atenção. Mas parece que as coisas que foram feitas como sátira ou crítica em Watchmen agora parecem ser simplesmente aceitas em sua superficialidade. Oh sim, eu to morrendo de inveja do conceito "caped crusader" do momento. ( Aqui ele provavelmente se refere a nova historia que Neil Gaiman esta escrevendo para Batman " whatever happened to the caped crusader " N. T. )

Você lembra que nos anos 80, houve uma incrível onda de preguiçosas e monumentais manchetes em revistas e jornais americanos e ingleses, algo do tipo : "Bam! Sock! Pow! Quadrinhos não são só para Crianças agora ." Eu achava que esses títulos eram apenas irritantes, mas é só recentemente que eu olhei pra trás e percebi como eles foram extremamente imprecisos. Os quadrinhos não tinham crescido, Bam ! Sock ! Pow !! . O que aconteceu foi que surgiram dois ou três quadrinhos que apresentavam, talvez pela primeira vez, fortes elementos adultos em suas composições. Isto foi considerado um milagre como um cachorro andando de bicicleta na década de 80. E não importa se ele estava andando bem, o importante é que ele estava andando.

Acho que um monte de gente, independentemente de ter ou nunca ter lido um livro como Watchmen, o usam apenas como uma desculpa. Acho que existe um surpreendente número de pessoas por aí que secretamente tentaram acompanhar as aventuras do Lanterna Verde, mas que acharam que teriam sido socialmente discriminadas se fossem vistas lendo um quadrinho em um local público. Com o advento de livros como Watchmen, acho que essas pessoas ganharam a desculpa pelo termo graphic novel. Todo mundo sabia que quadrinhos eram para crianças e para as pessoas intelectualmente inferiores, Graphic Novel (Romance Gráfico N. T.) soa como uma proposta muito mais sofisticada.

Isso soa como o tipo de coisa que um trintão ou um quarentão poderia ser visto lendo no metrô, sem constrangimento. Quando eu comecei trabalhar para a DC Comics, eu imaginei que a idade de meus leitores provavelmente estaria em algum lugar entre 9 e 13 anos, e agora eles estariam entre 13 e 18 anos. A média de idade do público de história em quadrinhos, e é assim desde o final dos anos 80, provavelmente está envelhecida de trinta a cinquenta anos, o que sustenta a idéia de que estas coisas não são compradas por crianças. Elas são comprados em muitos casos por nostálgicos desesperados ou, fazendo uma idéia pior, talvez sejam casos de desenvolvimento apegado a infância, não importa o quão banal sejam as aventuras dos seus vários heróis e ídolos.

Wired: Quando você estava trabalhando em seu ultimo material para a DC, ainda tinha os jovens como publico alvo?

Moore: Até o final da minha atuação original na DC eu era muito jovem, e ainda seguia os planos que tinha traçado quando era uma parte do fenômeno da explosão do gibis na Inglaterra na década de 1960. Acho que foi em 1967 provavelmente que houve a primeira convenção de quadrinhos britânica, e isso foi muito influenciado pelo espírito daquela época, que era muito inovadora. Como nas convenções americanas, que tinham começado algum tempo antes, eu acho que havia um elemento de nostalgia que se inseria nesse fenômeno desde o início. Aqui também tinha isso com certeza. Mas como disse, foi a década de 1960. A maioria dos fãs de quadrinhos que eu conheci na época eram proto- hippies de 14 ou 15 anos , como eu era. Eles estavam muito interessados no espírito inovador daquela época .

Então, havia um plano que seguiamos. Pensavamos que seria uma grande idéia se os quadrinhos pudessem ser reconhecidos como uma grande mídia que nos secretamente sabiamos que eles eram. E quando digo "nós", estou falando de 50 pessoas que apareciam no início dessas convenções, que era a soma de toda a gente deste país que já tinha ouvido falar de quadrinhos americanos. Naquela época a nossa idéia inovadora era : Não seria ótimo se as pessoas que fossem se envolver com as histórias em quadrinhos pudessem torna-las mais adultas, mais maduras, e mostrassem que tipo de temas poderiam ser tratados? Então essa era a meta que, 20 anos mais tarde, eu ainda seguia, no final da minha atuação na DC.


Na altura pensei que um livro como Watchmen talvez fosse desbloquear muitas possibilidades criativas, que talvez outros escritores e artistas na indústria iriam ver e pensar : "Isso é grande, mostra as possibilidades das história em quadrinhos. Podemos agora ter as nossas próprias idéias e graças ao sucesso de Watchmen teremos uma chance melhor de que os editores dêem uma atenção a elas " Eu estava esperando ingenuamente por uma grande onda de gibis autorais que explorassem idéias diferentes de narrativa e tentassem abrir novos caminhos.

Não foi isso que realmente aconteceu. Em vez disso, parece que a existência de Watchmen praticamente condenou a indústria mainstream dos quadrinhos a cerca de 20 anos de sinistras e muitas vezes pretensiosas historias que parecia ser incapazes de alcançar o enorme abismo psicológico que Watchmen tinha se tornado, ainda que essa nunca tenha sido minha intenção com o trabalho.

Quando voltei a trabalhar para eles - bem, eu não voltei. Eu era tipo terceirizado. A DC comprou a empresa com que eu tinha assinado contrato, o que é lisonjeiro e de uma forma, e muito assustador ao mesmo tempo. É como estar sendo perseguido por um namorada maluca e muito rica, que decide comprar toda a sua rua, a fim de estar perto de você.

Quando eu voltei a trabalhar, mesmo à distância, sob os auspícios da DC, eu tinha outras intenções. Bem, talvez fossem as mesmas intenções: fazer quadrinhos inovadores que adultos pudessem gostar. Mas eu estava então muito cansado da onda de morbidez que parecia ter sido desencadeada por Watchmen.

Quando eu estava trabalhando para a ABC, eu queria mostrar diferentes vias que os quadrinhos mainstream poderiam ter seguido, que eles não tinham de seguir Watchmen e os outros gibis dos anos 80 por aquele caminho sombrio e duro. Nunca foi minha intenção iniciar uma tendência para o lado sombrio. Eu não sou uma pessoa particularmente sombria ( dark, no original- N. T.) . Eu tenho os meus momentos, é verdade, mas eu tenho um senso de humor. Nos gibis da ABC eu tentei fazer histórias em quadrinhos que iriam talvez se dirigir a uma pessoa inteligente de 13 anos de idade, como eu fui, e que ainda satisfaria aos leitores contemporâneos, os homens de 40 anos de idade, que provavelmente o conheceriam melhor . Mas eu queria fazer um tipo de quadrinho que fosse acessível a uma variedade muito maior de pessoas, e continuassem a ser inteligentes, mesmo se eles fossem basicamente histórias de aventura infantis, como os gibis do Tom Strong.

Portanto, embora eu ainda estivesse comprometido com a inovação, que acho que fica evidente por algumas das coisas que fizemos bem experimentais em Tomorrow Stories em Greyshirt e em Cobweb, e as coisas incrivelmente experimentais que fizemos em Promethea, que acho que impulsionaram as possibilidades, as capacidades de um frívolo gibi, o máximo que já pude fazer pessoalmente. Algumas das coisas que fizemos em Promethea eram tão orgulhosamente inteligentes que eu ainda estou ardendo radiante três ou quatro anos mais tarde.
Foi uma mudança de foco. Eu não queria detonar outra onda de historias sinceramente infelizes sobre psicóticos vigilantes lutando contra vilões igualmente psicóticos. Eu queria fazer coisas que tivessem um clima novo, com uma atmosfera clara de amanhecer. E eu acho que, ate um certo grau, nós conseguimos, mas é claro que tudo terminou em lágrimas.



Agora estou bastante afastado das histórias em quadrinhos. Claro, é uma midia que sempre vou amar, e eu ainda estou trabalhando na Liga Extraordinária, mas acho que nem Kevin O'Neill nem eu a vemos no contexto de uma história em quadrinhos . Para mim, é uma das coisas que eu faço, como o novo romance, ou a música que eu trabalho de vez em quando, ou o livro de Magia. Estas são todas as coisas que eu faço. Não penso nelas num contexto de diferentes mídias e ainda penso em coisas novas para fazer nos quadrinhos, mas agora elas estão todas sublimadas na Liga, e nos estamos curtindo muito.

Estamos sendo o mais selvagemente experimentais quanto podemos. O primeiro livro do terceiro volume é realmente um musical, uma ópera. É provavelmente o mais destrutivo e mais negro de qualquer um dos livros da Liga até agora, o que incluiu o bombardeio aéreo de Londres na primeira edição, bem como a invasão de marcianos no segundo volume. Trata-se de alguma maneira, do mais negro de todos.

Mas tem um monte de músicas muito excitantes percorrendo todo ele. Porque, como sempre com a Liga, as aventuras são baseadas no cenário da ficção daquela época específica. Uma vez que este é fixado em 1910, achamos irresistível a idéia de incluir Bertolt Brecht e Kurt Weill . Então eu reescrevi o libreto para uma série das mais viscerais, darks, poderosas e sardônicas obras de Kurt Weill ( compositor alemão que tinha preocupação com questões sociais N. T.). Há um novo ", Mack the Knife ", um novo "Pirate Jenny", um novo ""MacHeath's Plea From the Gallows", um novo "What Keeps Mankind Alive" O epílogo da segunda parte deste volume em três partes se passa em 1976, onde temos uma versão punk de "Ballad of Immoral Earnings" chamados de ""Immoral Earnings in the UK". Eu estava preocupado em transformar A Liga Extraordinária em um tipo de cena de um filme ruim do Elvis, onde é só manter a historinha acontecendo e em seguida, alguém joga uma guitarra pro Elvis e todo mundo começa a cantar. Isso destrói qualquer possível realidade que tenha sido construída na mente do leitor, eu estava preocupado que isso acontecesse na Liga.

Só pensei, " o tipo de sentimento dramático que queremos criar neste livro vai ser prejudicado pelo fato de que temos personagens cantando?" Mas a forma como ele é trabalhado tende a fazer as cenas hyperreal, não menos real, apenas por causa da visão incrivelmente sombria e amarga de Bertolt Brecht ( dramaturgo e poeta comunista alemão, seus trabalhos também expressam preocupações sociais, foi parceiro de Kurt Weill N. T. ) . Estamos muito satisfeitos com a forma em que esta experiência funcionou. E esperamos no futuro continuar a expandir seus limites, tanto quanto pudermos. Mas isso é praticamente toda a extensão do meu envolvimento com os quadrinhos no momento.

Wired: A Liga é interessante devido à sua dependência de um vasto canône referencial. Tudo desde o Pulp ate Romances que foram escritos é citado.
Moore: Nos primeiros dois volumes trabalhavamos principalmente com personagens da literatura, porque personagens de literatura era tudo o que tinhamos até mais ou menos o final do século 19. Neste volume ( que é triplo ), a primeira parte fica em 1910, estamos usando personagens do teatro, assim como da literatura. Estamos usando todo o enredo da Threepenny Opera ( opera de 3 centavos, musical comunista da dupla Brecht / Weill - N. T. ) . No segundo, que se passa em 1969, temos acesso a todo cinema e televisão daquela época. Na terceira parte, situada no presente 2008, 2009, temos todos os personagens das novas mídias que tem evoluído ao longo dos últimos 30 anos.

É interessante, é um elenco de personagens em expansão, e eu presumo que estamos tentando propor uma espécie de teoria de unificação da cultura que atualmente conecta todos essas varias mídias, mesmo que sejam da cultura erudita, da cultura popular ou nenhuma cultura.

Wired: Como é que você se posiciona na passagem de homenagem a paródia e a citação se você esta comprometido com todos esses outros textos em manter o seu significado e falar sobre o que eles falaram?

Moore: Isso varia. Como, por exemplo, com o material do Brecht teremos um tecido meio descosturado na cronologia da Liga. Nossa "Pirate Jenny" não é tão trágica, indolente e fantasista do original de Brecht. Vou deixar para os leitores perceberem isso eles mesmos e não me aprofundar.

É uma questão de relacionar estas coisas, por vezes elas são obras menos conhecidas que pensamos que deveriam ser melhor conhecidas e estamos incluindo-as na esperança de que as pessoas possam realmente sair e buscar os livros originais. Às vezes temos personagens que são tão venerados que achamos que talvez sejam muito venerados, e gostaríamos de dar uma imagem mais fiel dos mesmos. Como por exemplo o personagem em The Black Dossier que ostenta uma considerável semelhança com James Bond. Bem, é James Bond, na verdade. Mas o que nós estávamos tentando fazer era mostrar as origens deste personagem, mostrar que James Bond de Ian Fleming era um personagem totalmente desagradável no seu início, era um machista nojento, com inclinações sexuais muito suspeitas, e não o personagem suave em que os filmes o transformaram. Queríamos o James Bond original com verrugas e tudo. Achamos que seria interessante para relacionar com vários livros, filmes e séries televisivas de espião que foram tão importantes durante os anos 60 e, para junta-los em uma rede coerente, com uma história coerente comum entre eles que me permitisse comentar sobre algumas das realidades dos Serviços de Inteligência e o seu trabalho em nosso mundo.

Fomos capazes de comentar algo sobre coisas como o fato de um número significativo de espiões MI-5 que foram recrutados a partir de universidades ou escolas públicas acabaram por se tornar agentes duplos, traidores para os russos, nomeadamente Kim Philby. Achamos muito interessante que Kim Philby era um grande amigo do escritor Graham Greene, que escreveu o roteiro do filme "O Terceiro Homem" ( clássico filme de espionagem dirigido por Carol Reed em 1949 - N. T. ) e baseou seu personagem Harry Lime em Philby. E ele próprio, Philby, era chamado apenas de Kim, porque o pai dele o identificava com o personagem Kim do livro de Rudyard Kipling, que tinha sido um espião, no Grande Jogo do Afeganistão nos anos 1880. ( conflito militar histórico entre Rússia e Inglaterra pelo domínio da Ásia Central N. T.)

Ate hoje, já descobrimos dois agentes duplos: Guy Burgess e Donald MacLean. Ha rumores que possa ter existido um terceiro agente duplo. Lembro que na década de 1960 as manchetes diziam, "Kim Philby É o terceiro homem". Eles ignoraram completamente o fato de que Kim Philby realmente ERA o terceiro homem, que foi nele que Graham Greene se baseou para criar o personagem.

George Orwell disse que baseou todos os apparatchiks ( agentes do governo - N. T. ) do Big Brother ( regime totalitario do livro 1984 - N. T. ) nos diretores de Eton, a escola pública em que estudou. Também descobri que Frank Richards, o viciado em jogo que escreveu livros do estudante Billy Bunter, entrou em uma desaconselhável polêmica pública com George Orwell, quando este escreveu uma crítica ao Billy Bunter, dizendo que eles eram livros racistas, imperialistas, que tratavam todos os estrangeiros e minorias como motivo de piada, e fez todas estas outras observações bastante precisas sobre os livros de Billy Bunter .

Ao que Richards respondeu que o Sr. Orwell estava sendo terrivelmente injusto com a sua inócua brincadeira de moleques, e sobre o tratamento de estrangeiros como motivo de zombaria, bem, eles eram. Essa não foi a melhor resposta a dar para alguém como George Orwell. No Black Dossier, fomos capazes de fazer observações sobre todas estas coisas. E, por vezes, A Liga irá, mesmo que esteja situada em um mundo de fantasia, comentar algum assunto que realmente pareça bastante relevante para o mundo em que estamos neste momento.

Sei que quando eu estava escrevendo o segundo volume sobre a invasão marciana nós estávamos apenas nos encaminhando para a guerra ainda em curso, no Afeganistão. Eu sei que havia elementos das coisas que eu estava vendo nos noticiários que estavam penetrando no meu pensamento, que, por sua vez, estavam entrando em algumas partes do diálogo em algumas das cenas daquele volume da Liga.

Então, sim, é um enorme mundo de personagens de ficção que nunca existiram . E é a um certo nível, um superelaborado jogo literário. Mas também somos capazes de encontrar todos os tipos de ressonâncias. A razão pela qual esses personagens ainda persistem é que eles ainda tem ressonância. Se você extrapolar as possibilidades nas suas aventuras e reuni-los uns aos outros, se você fizer isso bem, pode ampliar a sua ressonância e torna-los ainda significativos para o mundo de hoje. O tipo de machismo que é exemplificado por James Bond ainda se aloja na psique do homem moderno e, provavelmente, ainda precisa ser discutido. Algumas das tendências imperialistas que vigoravam durante a época de Allan Quatermain ainda continuam atuais quando discutidas hoje. Talvez estejamos nos referindo a um país diferente ou uma outra situação global, mas os princípios básicos são certamente atemporais, bastante persistentes.

É mesmo um grande jogo literário, mas ele nos permite abordar uma surpreendente quantidade de coisas que de alguma forma são relevantes para o mundo contemporâneo. Uma vez que temos todo o mundo da ficção, desde o início até ao fim do tempo para brincar e uma vez que podemos deixar cada personagem que já existiu em algum lugar no elenco reserva da nossa novela, então eu acho que Kevin e eu temos mesmo uma imensidão de idéias do que podemos fazer no futuro com a Liga. E acho que não vamos esgotar essas possibilidades por um bom tempo.




Wired: Poderia fazê-lo em outro suporte?

Moore: Não. Senão eu teria feito. Eu realmente acho que a Liga iria, bem, poderia ter funcionado. Houve uma época em que eu teria dito que, se algum dos meus gibis pudesse funcionar como filme, teria sido o primeiro volume da Liga. Foi construido de modo que poderia ter sido feito diretamente na forma de filme, e teria sido tão poderoso quanto era na publicação original. Mas isso é subestimar as tendências contemporâneas de Hollywood, onde eu simplesmente não acredito que qualquer um dos meus gibis poderiam ser beneficiados de qualquer forma por serem transformados em filmes. Na verdade, muito pelo contrário. As coisas que eu tentei incutir nos gibis eram, em geral, coisas adequadas apenas para as histórias em quadrinhos.

Eles tratavam de quadrinhos apenas, num certo sentido. Transplanta-los para a tela seria cortar 30 ou 40 por cento da razão pela qual eu quis fazer o trabalho.

Jerusalém, este enorme romance em que estou trabalhando, em que já completei dois terços e já possui algo em torno de 1500 páginas, só poderia ser feito como um romance, e como um romance incrivelmente longo . Não funcionaria como uma tira de quadrinhos. Ele não tem o ritmo exato de uma tira. É algo que foi projetado para funcionar como prosa e ocasionalmente pedaços de poesia, como A Liga foi concebido para funcionar como um gibi, ou um Romance Gráfico, se todo mundo insiste.

Muitos dos efeitos da Liga, as coisas que todo mundo se lembra, são inerentes aos quadrinhos. Se você fizer A Liga em um filme, mesmo se você tentar, digamos, "permanecer fiel a minha história ou o meu diálogo" Eu quero dizer, o que é tão improvável quanto absolutamente impossível, mas digamos que isso acontecesse. E arte do Kevin???? Ela é uma parte integrante do sentimento da Liga que não poderia ser feita por qualquer outra pessoa além dele. Eu acho que ele é provavelmente um dos maiores e mais originais artistas que trabalham nessa mídia no momento devido a sua influência, o seu estilo, que vem mais da ilustração Inglesa, dos quadrinhos britânicos, do que de outro lado do Atlântico. Eu não estou dizendo que isso é ruim, mas uma enorme quantidade de pessoas aqui, inclusive eu, foram mais influenciadas pelo material americano quando eramos crianças do que pelo que foi, agora vejo, o brilhante material britânico. Kevin sempre teve um absurdo e grotesco senso britânico em seu trabalho.

Acho que o material que ele está fazendo neste novo volume, eu sei que digo isto em todo novo volume da Liga, mas acho que é o melhor trabalho do Kevin. É sempre assim. Eu realmente não posso dizer nada diferente. É extraordinário. Ele se superou novamente.

Em um filme não é um desenho de Kevin O'Neill. E não ligo pra quanto CGI tenha. Não se trata de um desenho de Kevin O'Neill. Quando penso na Liga Extraordinária são os desenhos do Kevin que eu quero ver, a narrativa dele, ou a narrativa que é a combinação de nossos esforços. Estas são as coisas importantes para mim na Liga.

É como a idéia sobre o filme do Spirit que fizeram. Quer dizer, eu diria que é bastante óbvio que Spirit não é sobre um cara que usa uma máscara azul que combate a criminalidade de seu falso túmulo em um cemitério. Que o Spirit é, na realidade, sobre os quadrinhos na página, a forma que o nosso olho se desloca de um quadrinho para outro. Isto provem das formas inovadoras, layouts e designs que Will Eisner trouxe para os quadrinhos. Você não pode traduzir isso em um filme. Por mais que Eisner adorasse cinema e tentasse levar suas técnicas para os quadrinhos tanto quanto possível, há algumas coisas das páginas de Will Eisner que você simplesmente não pode traduzir de volta para o cinema. Acho que ele teria sido inteligente o suficiente para saber isso.

Acho que a adaptação é uma grande perda de tempo em quase todas as circunstâncias. Há provavelmente coisas singulares que venham provar que estou enganado. Mas seriam mesmo exceções. Se uma coisa funciona bem em uma mídia, naquela em que foi projetada para funcionar, então o único motivo possível para querer realiza-la em "múltiplos formatos", como dizem hoje em dia, é fazer um monte de dinheiro fora dela. Não existe nenhuma consideração pela integridade do trabalho, e essa é de longe a única coisa em que eu estou interessado.

Eu tenho dinheiro suficiente para ter conforto. Eu vivo confortavelmente, posso pagar as contas no final do mês. Eu não quero uma enorme quantidade de dinheiro pra ter que diluir algo que me dá orgulho. Isso descreve muito bem a minha atitude com relação a idéia de qualquer um dos meus trabalhos ser adaptado para outra mídia.

Wired: Você teve o problema não só da dificuldade de adaptação, mas também o de ter sofrido por algumas adaptações muito ruins.

Moore: Eu nunca assisti a nenhuma das adaptações de meus quadrinhos. Eu nunca quis, e não há absolutamente nenhuma chance de fazer isso futuramente.Eu não tenho mesmo sofrido por eles, embora tenha havido uma certa quantidade de irritação e comportamento injurioso por parte da indústria de quadrinhos e do cinema pelo qual eu tenho sofrido. Mas eu já espalhei essa retórica amarga por ai. Tenho certeza que as pessoas podem procurar os artigos se assim desejarem.

Meus quadrinhos ainda são os mesmos que eram antes de serem transformados em filmes. Eles não foram alterados. Eu lembro de uma resposta, eu acho que foi Raymond Chandler, que foi questionado sobre o que ele sentia tendo seus livros "arruinados" por Hollywood. E ele levou a pessoa em seu estúdio e mostrou que todos os seus livros estavam na estante, e disse: "Olha, é ali que eles estão! E estão todos bem. Eles não foram arruinadas. Eles continuam lá." E eu acho que é bem essa a minha atitude. Se meus quadrinhos são tão bons como penso que são, então são eles que vão permanecer. E se os filmes são tão ruins como penso que são, então eles não vão permanecer. Acho que veremos isso no fim de tudo, que seja assim.

Wired: Entre as entrevistas do documentário The Mindscape of Alan Moore, você disse que tentou explicar isso para o diretor Terry Gilliam.

Moore: Acho que Terry entendeu o meu lado. Quando nos encontramos principalmente - o que só aconteceu porque eu pensei que seria realmente muito legal encontrar Terry Gilliam, e foi mesmo - O Sr. Gilliam me perguntou o que eu achava de traduzir Watchmen em um filme, e eu respondi : "Se alguém tivesse me perguntado Terry, eu teria aconselhado a não fazer isso." Acho que Terry é um homem inteligente e chegou à essa conclusão por si próprio. E eu acho que ele disse algo nesse sentido, que ele pensou que era algo que provavelmente deveria ser deixado como uma historia em quadrinho e não deveria ser feita em um filme.

Essa tem sido a minha atitude há um longo, longo tempo agora. Só que a minha atitude talvez tenha ficado mais dura e enraizada, assim como as minhas artérias endureceram e eu envelheci. Estou um pouco mais veemente e vociferante do que quando eu era um imberbe jovem na casa dos 30.

Wired: Pode ser mais específico sobre as coisas que os quadrinhos como uma mídia podem fazer melhor do que outras mídias?

Moore: Uma coisa é que com os quadrinhos, e isso foi provado - creio que por testes do Pentágono no final do anos 80 - que os quadrinhos são realmente o melhor meio para transmitir informações as pessoas de uma forma que elas irão reter e lembrar. Não é apenas eu que digo isso, é o Pentágono. Pessoalmente acho que - e isto é apenas baboseira pseudo-científica de um hippie - acho que deve ser assim porque a forma de percepção do que costumava ser chamado o nosso cérebro esquerdo é a palavra. Nosso cérebro esquerdo é o que processa o discurso e a racionalidade. A forma de percepção do nosso cérebro direito, pelo contrário, seria a imagem, porque o cérebro direito é pre-verbal.

Então talvez seja por causa da combinação de palavras e imagens em um formato legível que os quadrinhos tem esse poder único. Agora, evidentemente, os filmes são uma combinação de palavras e imagens, mas ela têm uma estrutura completamente diferente e uma forma completamente diferente de trabalhar. Nos filmes você é arrastado através da cena por implacáveis 24 fotogramas por segundo. Nos gibis você pode trazer de volta seus olhos para um quadro anterior, ou pode voltar um par de páginas para verificar se existe alguma referência na caixa de diálogo para uma cena que aconteceu anteriormente.

Você também pode gastar quanto tempo quiser absorvendo cada imagem. Isto é especialmente verdadeiro no caso de Watchmen, onde eu estava tentando tirar vantagem da brilhante capacidade de Dave Gibbons como um ex-engenheiro para a inclusão de uma incrível quantidade de detalhes em cada pequeno painel, para que pudéssemos coreografar cada pequena coisa. Os pequenos símbolos e sinais que aparecem no fundo, cada pequeno toque poderia ser coreografado ate o último detalhe, nós sabíamos que o público faria a leitura em seu próprio ritmo, e seria capaz de estudar cada painel e se ater nestes detalhes quase subliminares. Mesmo o melhor diretor do mundo, até mesmo uma pessoa tão talentosa como Terry Gilliam, não poderia reunir a mesma quantidade de informação em alguns fotogramas de um filme. Mesmo se o fizesse, passaria muito depressa. Porque o público em uma sala de cinema não controla a experiência da mesma forma que um leitor faz.

Uma das minhas grandes objeções ao cinema como mídia é que ele é muito imersivo, acho que nos transforma em uma população de preguiçosos e vadios sem imaginação. O absurdo a que chega o cinema moderno com seus efeitos de CGI afim de poupar a audiência do incomodo de ter que imaginar algo provavelmente vai ter um efeito incapacitante sobre a imaginação das massas. Você não precisa fazer nada. Com uma história em quadrinho tem bastante coisa pra fazer. Mesmo que você tenha imagens ali, você tem que preencher todas as lacunas entre os quadros, você tem que imaginar as vozes dos personagens. Você tem um trabalhão pra fazer. Não tanto trabalho quanto em um livro sem ilustrações, mas você ainda tem bastante trabalho.

Acho que o trabalho que exercemos para apreciar qualquer Obra de Arte é uma parte importante dessa apreciação. Acho que gostamos das Obras que nos envolvem, que entram em uma espécie de diálogo com a gente, já com o cinema você se senta aí na sua cadeira e aquilo passa na sua frente . Aquilo te diz tudo, e você realmente não precisa pensar muito. Existem alguns filmes que são muito, muito bons e que podem envolver o espectador em sua narrativa, em seus mistérios, em suas desdireções. Há muitos filmes que você assiste e que se passam na sua cabeça. Esses são provavelmente os bons filmes, mas não são muitos hoje em dia.

Parece que existe um público que exige que tudo lhes seja explicado, que tudo seja fácil. E eu acho que isso não faz bem a nossa cultura. A facilidade com que podemos realizar ou conjurar qualquer eventual cenário imaginavel através de CGI é quase diretamente proporcional à forma como estamos ficando desinteressados em tudo isto. Eu lembro dos esqueletos animados de Ray Harryhausen em Jasão e os Argonautas. Eu lembro do King Kong de Willis O'Brien. Eu lembro de ficar admirado da maestria artistica que tinha feito essas coisas possíveis. Sim, eu sabia como era feito. Mas parecia tão maravilhoso. Hoje em dia eu posso ver meio milhão de Orcs descendo ao longo de uma colina, e estou entediado. Eu não estou impressionado. Porque, francamente, eu poderia chamar alguém, um pedestre na rua, que poderia obter o mesmo efeito se você desse a ele meio milhão de dólares para fazer isso. Isso tira a Arte e imaginação e coloca dinheiro no controle, e eu acho que há uma equação perfeita da relação inversa entre dinheiro e imaginação.

Se você não tem nenhum dinheiro, vai precisar de muita, muita imaginação. É por isso que foram feitos filmes brilhantes por pessoas que trabalhavam com uma micharia, como os primeiros filmes de John Waters. As pessoas são levadas a inovação pelas limitações do seu orçamento. O oposto é verdadeiro, se eles tem 100 milhões, digamos, só um exemplo, para gastar num filme, então eles de alguma maneira não veêm a necessidade de criar uma história ou uma narrativa decentes . Parece que esses valores são jogados fora. Ai existe uma relação inversa.

Wired: São relações diferente das capacidades intrínsecas da mídia. Tem a ver com aproveitamento. É possível fazer um bom ou um mau quadrinho.

Moore: Claro, e é possível fazer um bom filme e um mau filme. Só que não vejo uma boa quantidade de bons filmes ou bons gibis, e considerando a enorme quantidade de dinheiro que são injetados na produção dessas coisas, eu acho que seria ideal que houvesse uma qualidade muito maior. Sim, muitos grandes filmes com os seus orçamentos de US $ 100 milhões ou mais, se fizerem sucesso, dão um bom retorno para o estúdio, eu acho, mas isso é depois de seis ou sete que realmente não pagaram as suas despesas. Você tem que pensar nisso em termos de impacto ambiental e econômico. Eu pensaria sobretudo no clima atual, quando a economia mundial parece estar descendo pelo ralo, talvez devessemos começar a pensar sobre como lidar com a nossa cultura de forma diferente. Deveriamos ser mais conservadores na hora de dar estas enormes quantidades de dinheiro aos nossos diretores de cinema, nossos atores , nossos heróis dos esportes, ou, EI !, os nossos escritores de quadrinhos!

Entretanto nos não somos culpados. Nós realmente não ganhamos tanto quanto os heróis do esporte ou os astros do cinema, isso deve ser dito. Deviamos começar a repensar tudo isso. Realmente vale a pena gastar todo esse dinheiro? Perder todos esses recursos? Quero dizer, 100 milhões poderiam muito bem resolver o horripilante problema da fome no Haiti. Ouvi dizer isso outro dia. Deviamos começar a mudar as nossas prioridades, e não apenas ficar tentando nos anestesiar eternamente com televisão e filmes porque estamos entediados com as nossas vidas no obsceno e rico mundo ocidental. Deveriamos mudar um pouco as nossas prioridades. Se vamos gastar o nosso dinheiro em filmes, então vamos começar a valorizar as pessoas que produzem coisas maravilhosas com muito pouco. Vamos parar com essa fascinação infantil pelo que não passa essencialmente de fogos de artificio.

A maioria dos filmes que eu vejo parecem se destinar a uma crítica ao nível de fogos de artificio. É ooh!! e ah!!. Estas parecem ser as únicas respostas adequadas para a maioria dos filmes modernos. Acho que estamos em um período de reavaliação cultural. Espero sinceramente que seja verdade, por que se não for assim, então estamos em um período de danação cultural. Eu acho que estamos obviamente caminhando para o inferno, e temos de mudar as nossas prioridades. Temos que repensar toda essa coisa, e acho que repensar a nossa cultura também faz parte. Espero que seja assim.


Wired: Você mencionou Jerusalém e sua música. Há mais alguma coisa que eu deva saber?

Moore: Tem o Bumper Book of Magic em que estou trabalhando com meu amigo e inspirador Steve Moore ( não é parente ). Esperamos que quando o terminarmos, provavelmente em um par de anos, ele seja o mais lúcido, o mais belo e provavelmente o mais informativo e divertido Grimorium que alguém já produziu. Será a primeira vez que um livro dessa natureza, um enorme compêndio de magia que explica sua teoria, sua prática e a sua história, e que inclui varias outras características maravilhosas, será a primeira vez que isso é feito para um mercado de massas.

Todos os magos de antigamente que já publicaram Grimoriums fizeram isso para uma elite de esotéricos, e principalmente em uma linguagem que só seria compreensível para as pessoas já com uma boa quantidade de conhecimento arcano. O que estamos tentando fazer é tornar isso, eu diria, completamente lúcido, para desmistifica-lo e ao mesmo tempo para restaurá-lo em uma posição de reverência, que achamos que deveria ocupar.

Uma das coisas que tem sido bem divertida é uma atração que aparece em todo o livro, uma série de chamadas de uma página: "As Vidas dos Grande Feiticeiros pelo Titio Moore," onde nós começamos com a dança do feiticeiro, a ilustração da caverna francesa Les Trois Freres, que é uma ilustração de uma xamã dançando com chifres de viado. Tomamos isso como o primeiro registro mágico. E falamos um pouco sobre as possibilidades do xamanismo neolítico e sua visão de mundo. Passamos pelos Magis da Pérsia e por praticamente todos os mais importantes magos famosos na história. Nós descobrimos algumas coisas incríveis pesquisando tudo isso e provavelmente fomos conformistas por que acreditavamos que já sabiamos tudo sobre estas coisas e estas pessoas. Nós descobrimos uma incrível quantidade de novas informações.

Nós descobrimos de onde veio a Cabala. Ela não é hebraica, é da Grécia Pitagórica. Foi Pitágoras quem primeiro sugeriu acrescentar três esferas as sete esferas clássicas. Ele disse: Isso é ótimo, mas você precisa de outras três esferas. Precisa de uma para representar a Terra, de uma para representar as seis estrelas do Zodíaco, e uma para representar o Primum Mobile, o primeiro movimento, ou as origens do universo, o Big Bang. Ela ainda tem, obviamente, um elemento hebraico na sua construção, mas o que aconteceu é que os Pitagóricos já tinham esse sistema delineado, 10 esferas, cada uma com suas correspondências. Isso teria sido traduzido para vários idiomas, incluindo o hebraico, em Alexandria mais ou menos entre os anos 100 aC e 100 dC., e haviam estudiosos de todo o mundo passando por Alexandria. O que deve ter acontecido é que os estudiosos Judeus pegaram esse material Pitagórico e perceberam que tinha um sistema de contagem de base 10, que seria adequado a sua matemática, e que eles poderiam traçar 22 linhas entre as 10 esferas, representando as 22 letras do alfabeto hebraico. Dai eles a pegaram e levaram embora e desenvolveram a cabala como é hoje. Mas as raízes são originalmente Pitagóricas.

Nós descobrimos quem foi Fausto. E como a história meio confusa do Dr. Fausto o mago malvado realmente evoluiu. Estamos ambos bastante contentes. Descobrimos ainda que a Magia Enochiana do Dr. Dee, que consistia nos nomes dos anjos escritos de trás para frente em um alfabeto mágico inventado, foi tirada por ele das idéias de Paracelso, que tinha um alfabeto mágico com o qual escrevia os nomes dos anjos ao contrário. Isso é uma coisa que nenhum de nós já havia lido em qualquer consideração sobre John Dee. Então nós estamos realmente animados.

Parece que descobrimos algo novo sobre cada mago que estudamos. É um livro muito divertido de fazer. Vai incluir um baralho de tarô completo em que irei trabalhar com José Villarrubia. A base lógica do tarô é que, se não é tão bom quanto o tarô de Aleister Crowley, então nem vale a pena se incomodar de fazer. Ele deve ser superado ou igualado. Não é interessante fazer um tarô que não seja tão bom quanto ele. Esse é o nível que estamos buscando. Queremos incluir um jogo de tabuleiro da Cabala. O vencedor é basicamente o primeiro que chega a uma Iluminação, desde que ele não leve muito a sério. Além disso, Melinda [Gebbie, companheira de Moore] também estará contribuindo fazendo um templo destacavel para os magos modernos carregarem, um pequeno santuário portátil.

Queremos que tenha muitas coisas divertidas incluídas, utilidades divertidas. Algo que deliciaria uma criança. Nós queremos fazer dele não apenas um livro perfeitamente lúcido e preciso sobre a Magia, nós realmente queremos fazer um livro sobre Magia que não decepcione uma criança de 8 anos que venha a encontra-lo. Quando eu era criança e ouvi falar pela primeira vez em Magia eu meio que sabia tipo instintivamente o que seria um livro sobre o assunto. Seria inimaginavelmente maravilhoso. Teria coisas fantásticas nele. Seria muito melhor do que os infantis gibis anuais que eu ganhava no Natal, seria maravilhoso. É bem isso que tentamos alcançar. Queremos que seja Magia acessível a pessoas adultas modernas e inteligentes. E nós também queremos que seja Magia que as crianças de 8 anos também reconheçam como Magia, e que seja tão bonita e gloriosa e divertida como elas sempre esperaram que a Magia fosse.

Existem outras coisas acontecendo. Acabei de escrever uma introdução para uma nova edição do Livro do Prazer de Austin Osman Spare e fiquei muito contente de ter feito isso. Essas são as coisas que me mantem ocupado, as três coisas principais.


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